1 de out. de 2015

Dia 145: O Sétimo Continente (1º de agosto)

No último post, eu (juntamente com Rodrigo) enfatizei como uma história pode ser prejudicada por um excesso de explicações. Algumas vezes, porém, o que vemos é uma total falta de explicativas porque não há como explicar algumas coisas. Talvez seja por isso que, no caso do filme de hoje, nós não sejamos capazes de ver claramente os personagens no início - eles, assim como sua vida e razões, não são completamente visíveis para nós. 

na vida cotidiana, cada pequeno detalhe faz parte da nossa percepção das coisas, mesmo que passemos por elas diariamente sem percebê-las. A chave que liga o carro. O cereal absorvendo o leite. Uma pessoa sem rosto que espera pela consulta médica ao nosso lado. E assim as coisas passam, a vida passa, nós seguimos pelos dias, horas, minutos. Até que seguir perde totalmente o sentido. Há milhões de maneiras de parar de se importar com as coisas ou até mesmo de não suportá-las mais. Mikael Haneke, em O Sétimo Continente (Der Siebent Kontinent), seu longa metragem de estreia na direção, nos mostra uma dessas formas de maneira magistral e quase cirúrgica, baseado em fatos reais de uma família na Alemanha. Mas apesar de sua visão de certa maneira asséptica, esse filme é um soco emocionalmente forte no estômago - e minhas reações a ele foram físicas mesmo. 

O que se passa com a família aqui eu já vi acontecer com pessoas ao meu redor (desculpe se não posso ser mais explícita, mas, acredite, estou me referindo a algo verdadeiramente triste e nocivo). É horrível. E tentamos encontrar uma explicação, um motivo para tal escolha, mas não  há nenhum. Toda justificativa é inútil, e Haneke é um mestre em nos falar a respeito. Julgamentos não servem para nada aqui também, é importante ressaltar. 

Depois da última cena, eu desliguei ia TV e olhei ao meu redor. Nada parecia fazer sentido por vários minutos. Aos poucos, fui retornando à vida, mas ainda em um estado suspenso, que me permitia perceber cada detalhe no meu entorno. A carne que eu estava fatiando para o jantar (o qual, eu acredito, não serei capaz de ingerir). Meus dedos martelando as teclas do computador. Sons distintos para além da minha janela. Uma dor persistente na cabeça depois de uma viagem tão difícil. Creio que levarei ainda um tempo para voltar a um estado menos perturbador diante da vida. 

Esta semana com os filmes não foi fácil. Primeiro foi a terrível tragédia de Oldboy... Depois, a falta de sentido e estupidez de Segunda Chance, e, agora, uma vida que podemos considerar comumente boa, mas que não tudo menos satisfatória. Mas, mesmo com as porradas sucessivas, é por um profundo sentido da vida que eu escolho passar boa parte do meu tempo com o cinema e seus filmes geniais, não é? E mais estar por vir, tenho certeza (e assim espero!).

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/08/day-145-seventh-continent-august-1st.html




O Sétimo Continente (Der Sibient Kontinent). Dirigido por Michael Haneke.
Com: Birgit Doll, Dieter Berner, Leni Tanzer. Roteiro: Michael Haneke,
Johanna Teicht. Austria, 1989, 104 min., Mono, Color (DVD).

Dia 144: Segunda Chance (31 de julho)

Eu simplesmente adoro Depois do Casamento (After the Wedding e Em um mundo melhor (In a Better World), filmes dirigidos por Susanne Bier. Assim, eu tento acompanhar sua carreira por conta o que considero duas obras primas, mas não tem sido fácil. 

Segunda Chance (En Chance Til) foi um filme bastante confusão para mim. Sua temática e atuações são bastante relevantes, mas um problema se apresentou pelo argumento central da história: alguém seria de fato capaz de agir daquela forma, em um momento de desespero? Rodrigo e eu questionamos essa premissa básica desde o início, criticando os personagens e os rumos que a história tomou ao longo do filme. Para dizer o mínimo, nós ficamos bastante bravos, na verdade. Eu entendo como um autor pode perder a mão ao escrever uma história, assumindo um tom professoral e perdendo parte da intuição ao longo de uma brilhante carreira. Trata-se, no entanto, de algo muito triste de se presenciar. 

Ainda assim, ao longo dessa co-produção de 2014 da Dinamarca e Suécia, nós conseguimos deixar um pouco de lado esse questionamento central a fim de nos focarmos no que estava sendo de fato debatido ali, e muito é discutido nesse filme. A cola que unia todas as questões apresentadas é o quão humanas todas elas são. Dessa forma, decidimos largar de mão o argumento sem sentido para nos concentrarmos no que estava sendo dito por detrás daquela situação absurda. 

Eu me lembrei do livro de Lionel Shriver, Precisamos Falar sobre Kevin, para mim uma leitura obrigatória (O filme não conseguiu alcançar a profunda e complexa dimensão do livro, eu acho). A busca  por uma vida perfeita, uma família perfeita: a luta insana por alcançar esse ideal ilusório pode superar necessidades mais fundamentais e prementes, como a percepção do que realmente acontece dentro de nós ou no ambiente familiar. Essa busca pode nos cegar completamente. Não olhar para a situação com olhos bem abertos pode acarretar eventos trágicos, como vemos na história apresentada por Shriver e no filme de Bier. Fazer de conta que tudo está bem, especialmente quando que está visível aos olhos parece maravilhoso, tem seu lado criminoso, com consequências terríveis.  

Uma das lições aqui é: olhar para a situação real que vivemos pode ser doloroso, mas fingir que está tudo bem pode ser ainda mais prejudicial, trágico até.  

Outro aspecto: agir em desespero é também garantia de tragédia. Não podemos resolver as dores de outrem - podemos ajudar, mas não resolvê-las por aqueles que amamos. Tentar resolver a situação de outrem é humano, claro, mas pode ser uma estupidez também. Nesse filme, Andreas, interpretado por Nikolaj Coster-Waldau, é estúpido por excelência e de forma magistral (eu disse que nós estávamos com raiva...). Aos poucos, no entanto, somos capazes de entender suas razoes, mas sem nunca cessar de questioná-las. O que ele faz é extremo e horrível, com terríveis consequências para ele e os outros envolvidos, e o fato de que ele age daquela forma sob falsos pretextos (mesmo sem o saber) é ainda pior. 

Ao ler este post, eu me sinto bastante prepotente, julgando ferozmente as ações de outrem, algo que eu tento evitar com bastante atenção - se Andreas houvesse sido um pouco menos preconceituoso, por exemplo, talvez ele houvesse agido diferentemente. Não me leve a mal, eu entendo as razões dele perfeitamente. mas, como eu disse antes, a premissa em si dessa história é absurda, facilitando os julgamentos a respeito. Essa atitude perante o filme se torna ainda mais fácil quando percebemos o que Susanne Bier defende em sua história - ao final, fica claro que ela partilha de algumas das ideias mais preconceituosas de Andreas, mesmo que ela tenha apresentado também a imensa bagunça que essa percepção pode causar. 

Nossas fortes reações ao filme são uma reflexo de como ele é relevante e enganador ao mesmo tempo. Não conseguíamos parar de falar a respeito do que víamos à nossa frente, sem acreditar no absurdo. Ao final, no entanto, eu penso que nós fomos ficamos menos furiosos, mais sensíveis à busca de Andreas. Ao menos até a terrivelmente cafona última cena, uma tentativa desastrosa de transmitir uma lição redentora. Um desperdício absoluto, quando nós finalmente estávamos conseguindo compreender essa trágica história humana.  

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Segunda Chance (En Chance Till). Dirigido por Susanne Bier. Com: Nicolaj 
Coster-Waldau, Urish Thomsem (o mesmo de Adams Aebler)Maria Bonnevie.
Dinamarc/Suécia, 2014, 102 min., Color (DVD).


PS: Fragmentos: A Seleção (Admission, 2013); Penny Dreadful, temporada 2, episódio 6, e alguns outros que eu não consigo lembrar agora... muita televisão e pouca memória :)

Dia 143: Palavrões (30 de julho)

Eu acabei assistindo a Palavrões (Bad Words) por acaso, na TV a caso, ainda de manhã, enquanto zapeava pelos canais da TV à procura de um filme para me acompanhar no café da manhã, como costumo fazer todos os dias. O que me chamou mais a atenção aqui foram as primeiras falas no filme, que peguei no início, e o quanto sombrias elas eram, reforçadas pela trilha sonora clássica: 

"Não sou bom em um monte de coisas, especialmente em refletir sobre as questões. Por isso esse meu plano foi tão porcaria. mas eu estava magoado, e estou feliz de ao menos ter feito algo a respeito. Tomar decisões erradas não é algo novo para mim. Afinal, eu vivo sozinho aos 40 anos de idade, e vivo de revisar garantias de produtos. Há algumas semanas, eu decidi pedir uma pausa no trabalho para poder fazer isso tudo aqui. E é bastante irônico que tudo o que fiz foi exatamente o que uma criança faria. Eu fiz birra exatamente para chamar a atenção".
"I'm not good at a lot of stuff. Especially thinking things through. And that's why this plan was so shitty. But my feelings were hurt, and I'm glad I at least did something about it. Making bad decisions is nothing new to me. After all, I live alone at 40, and I make my leaving proofreading products warranties. A few weeks ago, I took a  break from that however, so I could do this whole thing. And it's pretty ironic that what I did  was exactly what a child would do. I threw a tantrum just to get attention."

E isto é o que Guy Trilby é de fato: uma criança no corpo de um cara de quarenta anos. Esse tipo de criança não é raro, se pensarmos bem. Muitos de nós ainda carregamos nossas questões da infância conosco diariamente, sem nem percebermos. Decisões e escolhas são feitas por essa criança magoada, e não somos conscientes disso. Um dia, Guy resolve remediar essa situação. E como ele mesmo disse acima, sua escolha de como fazê-lo pode não ter sido a melhor, mas foi efetiva. 

É por isso que uma comédia que teve alguns momentos bastante bobos, sem noção mesmo, conseguiu me pegar de jeito  Apesar de algumas cenas muito estúpidas, seu tom sóbrio é uma constante, os personagens se tornam cada vez menos estereotipados a cada minuto, e assim eu não consegui me afastar desse filme, a estreia na direção de Jason Bateman em longa metragens. Eu li alguns comentários afirmando como esse filme é preconceituoso e misógino. Eu penso que o protagonista é assim, não o filme, que vai justamente na direção oposta do que o personagem apresenta de início. Claro, ele assim o faz com o uso de uma quantidade grande de clichês, mas essa escolha não comprometeu a busca dos personagens e a sua relevância - elementos que me levaram a me importar com o protagonista e com o que iria acontecer adiante. Não se trata de uma má característica em uma história, no final das contas. 

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Palavrões (Bad Words)Dirigido por Jason Bateman. Com: Jason Bateman, 
Kathryn Hahn, Rohan Chand. Writer: Andrew Dodge. EUA, 2013, 89 min., 
Dolby Digital, Color (Net).


PS: Fragmentos: Penny Dreadful temporada 2, episódios 3 e 4 - Eu tenho a firme convicção de que Eva Green deve receber um salário maior que o resto do elenco... o trabalho dela não é fácil, e ela o faz de forma bela e contundente.  

12 de set. de 2015

Dia 142: Oldboy (29 de julho)

Eu realmente preferiria não ter de escrever a respeito do filme de hoje. Mas como eu não me permito nenhuma escapulida neste desafio, aqui estou. 

Eu poderia ir direto ao ponto e dizer o quão magistral consegue ser Chan-Wook Park em Oldboy, uma produção de 2003 que eu levei muito tempo para ver. Eu apenas posso imaginar como teria sido assistir a esse filme no cinema, porque a fotografia é ainda muito atual e surpreendente, apesar do crescente número de produções com esse tipo de estética pop gamer atualmente.  Durante todo o filme, eu me imaginei na sala de cinema, há treze anos, maravilhada e aterrorizada pelo que via diante de mim. Mesmo na tela da minha televisão esse filme é lindo e de grande impacto. 

Essa afirmação seria precisa, até, mas um pouco distante do que realmente aconteceu comigo ao ver Oldboy.

Completamente só num mundo deserto e escuro, gritando desesperadamente na direção de um céu turbulento e caótico seri uma imagem mais apropriada ao caso. Se por um momento você pensou que eu posso estar exagerando, pense novamente. Estou sendo até bastante discreta, na verdade. Eu não sabia o que fazer comigo mesma durante as últimas cenas. Eu amaldiçoava a decisão de ver esse filme, xingava os roteiristas, ao mesmo tempo em que não conseguia desviar meus olhos da tela. Num estado bastante perturbado e com o coração em milhões de pedaços, eu desejei não ter assistido a esse filme, mas estava ainda assim grata por tê-lo finalmente visto. 

Uma história de proporções trágicas, um modo de filmar peculiar e belo, atuações extraordinárias: esse filme é ouro. Incrivelmente sofrido, horrível e verdadeiro. Vingança parece ser o tema preferido de Chan-Wook, e somente por esse filme eu imagino o que o levou a debater a respeito de forma tão contundente e sem concessões. Não tenho certeza se chegarei à outras de suas produções, no entanto, ao menos por um bom tempo. Ainda estou tentando ficar bem depois do filme de hoje, um soco no estômago de que é difícil se recuperar. 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/07/day-142-oldboy-july-29.html


Oldboy (Oldeuboi)Dirigido por Chan-Wook Park. Com: Min-Sik Choi,
Ji-Tae Yu, Hye-Jeong Kang. Roteiro: Chan-Wook Park et al. a partir dos
quadrinhos de Nobuaki Minegishi. Coréa do Sul, 2003, 120 min., 

Dolby Digital, Color (DVD).

PS: Há um remake desse filme com Josh Brolin eElizabeth Olsen, mas, pelo comentários, ele não conseguiu fazer jus ao original. 

PPS: Parce que moi je rêve, moi je ne le suis pas... Porque eu sonho, eu não sou...  Um dos filmes mais chocantes, senão o mais chocante que vi é também um dos meus favoritos na vida. Ao final de Léolo, uma produção canadense de 1992, todos no cinema ficaram paralisados. Ninguém se movia, todos congelados diante da porrada que foi a última cena. o entanto, Oldboy conseguiu se colocar num patamar superior no que diz respeito ao choque e tragédia, algo que eu não pensava ser possível. 

Dia 141: Jogada Decisiva (28 de julho)

Há uns meses, um amigo me perguntou se eu havia assistido a Jogada Decisiva (A Big Hand for the Little Lady). Ele contava sobre uma cena em que um dos personagens vai ao banco para pedir um empréstimo a fim de permanecer numa partida de poker, apresentando sua mão de cartas como garantia Na ocasião eu disse que sim, que tinha uma lembrança de o ter visto, mas que na verdade não tinha certeza. Eu tinha algumas imagens do filme na lembranças, e hoje decidi confirmar se realmente havia assistido a esse filme. 

A resposta é não. Estou agradecida a esse amigo por haver mencionado o filme para mim, porque ele é bom demais, genial e divertido. Jogada Decisiva é o que muitos filmes atuais tentam ser, com doses iguais de diálogos espirituosos e inteligentes, personagens bem construídos, atores maravilhosos garantem um bom entretenimento para o espectador. No início, eu estava realmente ansiosa. Um pouco depois, foi inevitável me divertir bastante - o Henry Drummond de Jason Robards, por exemplo é uma figura, impossível não achar divertido. Ao final, eu estava bastante surpresa com esse filme inteligente e sagaz, além de se tratar de uma excelente chance de ver Henry Fonda e Joanne Woodward junto em tela, em um de seus bons momentos. 

Um pensamento de última hora: esse foi o segundo western da semana, e os dois filmes não poderiam ser mais diferentes, apesar de serem do mesmo gênero. O filme de Fred Zinnemann alude a uma terra de ninguém, um lugar onde ninguém está a salvo - imagens e sons numa linda fotografia contam a respeito. No filme de hoje, dirigido por Fielder Cook, se refere a um velho oeste festivo de e mais leve (mesmo com o suspense e a tensão de alguns momentos), quando todas as possibilidades estão na mesa (desculpem o trocadilho). 

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Jogada Decisiva (A Big Hand for the Little Lady). Dirigido por Fielder Cook. 
Com: Henry Fonda, Joanne Woodward, Jason Robards, Kevin McCarthy. 
Roteiro: Sidney Carroll. US, 1965,
95 min., Mono, Color (DVD).




Dia 140: O Som ao Redor (27 de julho)

Velhos costumes, novas maneiras, questões atuais... nada parece mudar de verdade. 

Os fundamentos perversos de uma comunidade é apresentado na narrativa peculiar e interessante concebida por Kleber Mendonça Filho na sua estréia na direção, O Som ao Redor. Infelizmente, eu não vi o filme no cinema, mas finalmente pude me surpreender com essa história fundamental neste dia.  

Não à toa o filme recebe seu título. Os sons que compõem uma vizinhança de classe média na bela cidade do Recife são os narradores de fato aqui. O visível cuidado como design de som (também creditado a Kleber) é uma forma de nos inserir na vida dos moradores dessa vizinhança, de forma a percebermos o que se esconde por detrás da banalidade da sua vida cotidiana. Nos acompanhamos seu dia-a-dia, seus conflitos, interesses amorosos, dificuldades, estruturas social e familiar... e, como ocorre com esses moradores, não percebemos a ameaça maior que se encontra ali, estabelecida desde tempos anteriores. Sua presença reconhecida e até mesmo admirada, no nosso ambiente próximo,  causa horror e espanto. Um olhar atento de um contador de história a respeito de sua própria comunidade. 

Eu absolutamente amei esse filme. Sempre me maravilha como alguns cineastas conseguem contar da vida de uma forma tão detalhada e precisa, seja por meio de uma narrativa mais tradicional ou de forma mais inovadora (como é o caso aqui). Nessas produções, que carregam consigo grande honestidade, vemos a vida por uma mente de aumento. Vemos nossas próprias faces nessa lupa: visualizamos cada poro, aberto de forma a absorver o que está ao nosso redor, de um modo contundente. 

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O Som ao Redor. Dirigido e escrito por Kleber Mendonça Filho. Com:
Ana Rita Gurgel, Caio Almeida, Maeve Jinkings. Brasil, 2012, 131 min.,
Dolby Digital, Color/Petro & Branco (DVD).

Fragmentos: Sense8 (de novo :), temporada 1, episódios 9 e 10.

Dia 139: Matar ou Morrer (26 de julho)

Foi apenas depois de assistir a Matar ou Morrer (High Noon), uma produção de 1952 dirigida por Fred Zinnemann, que soube como esse filme foi uma reação à boicote estabelecido em Hollywood na época do General McArthur. Mesmo sem esse conhecimento prévio, foi possível identificar nele alguns aspectos que criticavam como uma comunidade e seus habitantes podem ser covardes e acomodados.  

O filme tem a duração de 85 min., referentes a um tempo de narrativa um pouco maior. Durante nossa hora e meia em Hedleyville, acompanhamos a luta de um homem por fazer o que considera correto, apesar de tudo estar contra ele, incluindo as pessoas que no início do filme o elogiavam como um excelente xerife. Mas pessoas conseguem escolher ficar em cima do muro com maestria, e não é uma surpresa que o Kane de Cary Cooper tenha de lidar com uma ameaça comunal sozinho. Sua angústia e decepção se tornam nossas também, e com ele nós seguimos em sua procura por ajuda. 

Os personagens secundários são excelentes, sendo essenciais para a história. A Helen de Katy Jurado e a Amy de Grace Kelly, cada uma na sua maneira própria, são mulheres fortíssimas num mundo essencialmente masculino. Num tempo consideravelmente curto, podemos compreender não apenas a dinâmica que movimenta essa pequena vila no oeste norte-americano, mas o nosso próprio presente. Impressiona o quanto esse filme ainda é relevante, e assim seguimos por essa narrativa em preto em branco com muitas e muitas referências atuais em mente. 

trivia no imdb.com está repleta de fatos interessantes e de referências, além de boas fofocas :)

Ao final, eu me vi bastante impressionada com esse filme, mesmo que eu já esperasse que ele fosse extraordinário. É de fato excelente, com uma boa história sendo contada por meio de vários detalhes sutis, atuações sólidas e uma cuidadosa fotografia, além de ser um western, o que por si só já é bem legal.  

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Matar ou Morrer (High Noon)Dirigido por Fred Zinnemann. Com: Gary 
Cooper, Grace Kelly, Katy Jurado. Roteiro: Carl Foreman a partir da 
história The Tin Starby de John W. Cunningham. EUA, 1952, 85 min.,
 Mono, Black and White (DVD). 

11 de set. de 2015

Dia 138: Barry Lyndon (25 de julho)

Tudo em Barry Lyndon é deslumbrante, desde o início. Penso que o motivo para que assim seja é o grande cuidado apresentado na construção das cenas. Cada take é uma pintura, carregando consigo a atmosfera de uma outra era, outro tempo, reafirmado pela divisão da narrativa em capítulos.Esse formato se adequou bem para a história de um irlandês sonso, mas aproveitador, e suas desaventuras durante a vida no século 18. Admirável. 

O narrador em off nos leva pela mão por cada pintura nessa narrativa tranquila mas intensa, acompanhada de uma belíssima trilha sonora de compositores clássicos - com ênfase para o Piano Trio n. 2 In Flat Major, Opus 100, Schubert (o mesmo que me pegou pela garganta em Fome de Viver) e a Sarabande de Händel, ambos onipresentes durante toda a narrativa. Maravilhoso. 

Todos os elementos são parte da atmosfera aqui - linda, distante, evocativa de uma vida que não foi vivida, mas que viveu Barry. Ele passa por sua vida com uma expressão sonsa, se deixando levar pelos acontecimentos. Ele sai da sua vida e depois a ela retorna sem realmente mudar, apesar de tudo que vivenciou - o que acaba por ser, na verdade, uma grande tragédia. Nós o acompanhamos em sua jornada, maravilhados com as pinturas em movimento de outra época na nossa frente. Belíssimo.

Por ser Stanley Kubrick, não se poderia esperar somente a adaptação cinematográfica de uma história escrita (uma de suas marcas registradas). Há pontos importantes aqui - como é usual em cada um de seus filmes. Um deles é o quão fútil podem ser as ambições sociais, o que socialmente é considerado fundamental, mas que, no fim das contas, realmente não importa. Deslumbrante. 

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Uma das famosas cenas filmadas à luz de velas

Barry Lyndon. Dirigido e escrito por Stanley Kubrick a partir do romance
de William Makepeace Thackeray. Com: Ryan O'Neal, Marisa Berenson,
Patrick Magee. Inglaterra/Irlanda, 1975, 184 min. Mono, Color (DVD).



PS: Eu primeiro ouvi falar sobre Barry Lyndon em uma camiseta que eu dei de presente a um amigo. Pode parecer inacreditável, mas eu não conhecia essa obra prima que Kubrick apresentou ao mundo entre o genial Laranja Mecânica, 1971, e O Iluminado, 1989

Dia 137: Land Ho! (24 de julho)

A sinopse sobre Land Ho! no imdb.com quase me afastou desse filme (está aí a razão por que geralmente eu não leio nada antes de ver um filme). A descrição é muito aquém do que eu vi posteriormente. Mas essa produção se passa na Islândia, e por si só esse é um motivo para eu ficar na frente da TV. Dessa maneira, numa sexta-feira bastante tranquila que me viu num humor difícil, eu cheguei à pequena preciosidade que é Land Ho! 

Valeu a pena 'enfrentar' a sinopse boboca. Dois velhos amigos, cada um em seu próprio momento desafiador, viajam juntos pela Islândia, um lugar dos sonhos para mim. Sua amizade franca, as coisas sobre as quais ele conversam, a proximidade dos dois, as várias referências cinematográficas (eu amei cada uma delas), as pessoas que eles encontram na sua jornada pelas mais incriveis paisagens... e de repente chegaram os créditos finais numa hora em que eu queria ficar ali com aqueles dois amigos na Islândia um pouco mais.  

É um chute, mas eu penso que esse não é um filme para todos os gostos: o companheirismo entre Mitch e Colin é o que torna esse filme tão cativante, mas ele é calmo e concentrado nesses dois caras - o que para mim é sempre lindo de ver, mas que pode não ser tão interessante para quem busca mais ação em um filme. Independente disso, eu asseguro que vale dar uma chance a essa história. Mitch e Colin são uma boa companhia, e guias divertidos pela surreal Islândia.  

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/07/land-ho.html

Land Ho! Dirigido e escrito por Aaron Katz, Marth Stephens. Com: Earl
Lynn Nelson, Paul Eenhoorn, Karrie Crouse. Islândia/EUA, 2014, 95 min.,
Color (Cable TV)





Dia 136: Surpresas da Vida (23 de julho)

The Dust Factory. Directed and written by Eric
 Small. With: Hayden Panettiere, Ryan Kelly,
Armin Mueller-Stahl. US, 2004, DTS/Dolby
Digital/SDDS, Color (Cable TV).
O segundo filme na fase 'perdida no espaço' foi ainda pior que o anterior. 

Mas foi total culpa minha, porque esse filme obviamente era bastante ruim. Eu escolhi não ouvir nenhuma das estridentes sirenes de alerta sobre Surpresas da Vida (The Dust Factory), um filme voltado para a família a TV a cabo. O começo foi querido, o meio é tudo o que não se deve fazer em um filme, e o final é... Ok, vou parar por aqui. Digo apenas que eu não gostei nada do filme, mas perseverei até o fim na esperança de uma ligeira melhora, que nunca ocorreu, aliás. A referência a um "nerdy space-fan" na sinopse me deixou curiosa e eu decidi por esse filme neste dia - um personagem nerd sempre vale a tentativa. E somente assim é que podemos descobrir se um filme é para nós ou não. Mas repito, eu realmente sabia que este não seria para mim desde o começo. 

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Dia 135: Poder Paranormal (22 de julho)

Estes dois últimos dias eu passei em uma espécie de limbo... e nos dois os filmes a que assisti acabaram por refletir essa experiência de estar meio perdida no espaço. 

O primeiro foi Poder Paranormal (Red Lights), este 136º dia do desafio. Eu o encontrei ao acaso na TV a cabo, e fiquei um pouco surpresa por não ter ouvido falar dele antes, pois seu elenco é estrelar: Sigourney Weaver, Cillian Murphy (que eu admiro mais ainda desde Clube dos Suicidas), Robert De Niro, Elizabeth Olsen... Mas logo no início eu já me vi perguntando o que todos esses atores incríveis faziam ali. 

Eu curti o filme, não me entenda mal. Ele é intrigante, inteligente, cheio de suspense... mas seu roteiro tem tantos furos que ele gradativamente perde muito do sentido. Até chegarmos ao final, de que eu gostei na verdade, mas que foi tão mal construído que se tornou mais um elementos do desfile de nonsenses nesse filme. 

Foi estranho, porque o final se refere a como podemos evitar, durante toda a nossa vida, exatamente o que é essencial em nós, sem que nem percebamos, até que somos confrontados afinal. Nesse sentido, a conclusão desse filme é bastante precisa, mas o estrago já havia sido feito. Apesar de acreditar que às vezes uma boa história pode sobreviver a um roteiro desleixado,não foi o que aconteceu aqui, infelizmente. 

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Poder Paranormal (Red Lights)Diririgdo e escrito por Rodrigo Cortés. 
Com: Sigourney Weaver, Cillian Murphy, Robert De Niro. Espanha/EUAS, 
2012,  114 min., Dolby Digital, Color (Net).

PS: Fragmento: Intocáveis (Intouchables, 2011).

Dia 134: Meu Verão na Provença (21 de julho)

A diferença entre um filme muito bom e aquele mais ou menos pode ser não muito grande. Em alguns casos, é como uma roupa. Alguns detalhes,  cuidados com clichês excessivos, uma certa sutileza... e voilá, temos uma filme incrível. Meu Verão na Provença (Avis de Mistral) poderia ter sido um excelente filme que não fosse por alguns aspectos mais forçados na história e na direção. 

Há, contudo, um ponto a favor desse filme é que, mesmo com história e personagens bastante estereotipados, anda assim eles conseguiram me conquistar, especialmente o pequeno Theo (Lukas Pelissier). Ele é uma ligação preciosa entre seus irmãos e os avós distantes, e claro, como normalmente ocorre com as crianças, é o primeiro a se abrir para o relacionamento com o avô, um homem que é na verdade um total estranho para ele e os irmãos. 

Algumas coisas, porém, não fizeram o menor sentido, e foram apresentadas de forma forçada para provocar um certo drama, sem que eu visse qualquer utilidades desses elementos para a história. Foi um exagero desnecessário, que levou esse filme fofo (que traz muitos sorrisos ao nosso rosto, no que realmente parecem férias em alguns momentos)  a ser tornar uma produção menor, apesar do cenário belíssimo e do sempre genial Jean Reno. 

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Nosso Verão na Provença (Avis de Mistral). Dirigido e escrito por Rose
Bosch. Com: Jean Reno, Anna Galiena, Chloé Jouannet. França, 2014,
105 min., Dolby Digital, Color (Cinema). 



PS: A primeira vez em que vi o estrondoso Jean Reno foi no amado Imensidão Azul (Le Grand Bleu), 1998, um filme que me levou a sonhar várias vezes que eu estava nadando sob a água, até que eu decidi aprender de fato a nadar. Sua trilha sonora foi uma constante nos meus dia por um bom tempo. No que se refere a Reno, eu geralmente lembro de sua fala mais frequente na história: "Roberto, mio palmo" <3





Dia 133: O Substituto (20 de julho)

"Whatever is on my mind, I say it as I fell it, I'm truthful to myself: I'm young and I'm old, I've been bought and I've been sold, so many times. I am hard-faced, I am gone. I am just like you".
"Eu digo o que eu penso, seja o que for; sou fiel a mim mesmo: sou jovem e sou velho; Eu tenho comprado e fui vendido por muitas vezes. Minha expressão é dura, eu era. Eu sou exatamente como você."


O Substituto (Detachment) me levou a um profundo e arrasador sentimento de perda e luto. Nós deveríamos contar o tempo nesse filme pelos segundos, não minutos, pois cada um deles explode com a triste certeza de que o nosso melhor, apesar de às vezes não importar muito, é o que na verdade faz a diferença. Para quem, eu não tenho a mínima ideia. Mas se trata da única forma de ser. Não importam as circunstâncias, o fundamental é ser verdadeiro consigo mesmo. Não há outro caminho.

No começo do filme, há alguns testemunhos sobre o que significa ser professor. Como a profissão foi uma melhor opção a um emprego como motorista. Como acabou por ser a única e inevitável opção. Como é importante fazer a diferença. E aqui retornamos à pergunta sempre presente: para quem? Fazer diferença para quem. Não creio que esse seja o objetivo do protagonista aqui, como li em alguns comentários a respeito. Sua única opção na vida é ser fiel e verdadeiro consigo mesmo, o que acaba por se mostrar uma benção e uma maldição que ele carrega todos os dias, a cada instante da sua vida. Ele não possui outra alternativa. E assim ele vive seus dias sob as marteladas constantes causadas pela sua atenção e cuidado com o que está ao seu redor.  E, como eu disse, não há outra opção na vida. 

Henry, o protagonista, diz em determinado ponto: "Nós temos uma imensa responsabilidade em guiar nossos jovens para que eles não desmoronem, não caiam no esquecimento, tornando-se insignificantes". E essa foi a razão para o meu estarrecimento durante todo o filme, porque nem sempre conseguimos alcançar esse intento. No contexto de uma escola sucateada, o que importa na vida é debatido no cenário arrasador do sistema educacional atual e suas tentativas de fazer sentido, com indivíduos ficando cada vez mais perdidos no meio disso tudo. Não há fórmula para ser uma boa pessoa, um bom professor, senão, talvez, importar-se de verdade, o tipo de atenção e cuidado que advém de estarmos atentos a nós mesmos, aos outros e ao que está ao nosso redor. Importar-se de verdade. Assim, voltou ao início: não há outra opção na vida a não ser honesto consigo mesmo, de forma a possibilitar esse cuidado e atenção, mesmo que seja dolorido e difícil chegar a essa percepção. 

Por mim, mas não menos importante aqui, o elenco genial faz a força dessa história nesse filme a meu ver obrigatório (de verdade, não deixe de assistir a ele):  Adrien Brody está maravilhoso, rodeado pelos igualmente incríveis Marcia Gay Harden, Christina Hendricks, Lucy Liu, James Caan, Blythe Danner, Sami Gayle, Christina Hendricks - cada um deles como um diferente aspecto da vida e do ato de viver, em atuações honestas que permanecem conosco muito além de seus arrasadores 5.880 segundos.  

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/07/133-detachment-july-20.html


O Substituto (Detachment)Dirigido por Tony Kaye. Com:  Adrien Brody, Sami 
Gayle, Betty Kaye. Roteiro: Carl Lund. EUA, 2011, 98 min., Dolby Digital, Color (DVD).



PS: A partir dos testemunhos no início desse filme, eu pensei um bocado sobre a minha própria experiência com ensino, que é muito pequena, mas que mesmo assim mudou minha percepção da vida. Durante minha primeira graduação, eu evitei as disciplinas eletivas na área de educação da mesma forma que o diabo foge da cruz. Por que  eu realmente não sei. Não compreendo de onde veio essa aversão naquela época. Assim foi, no entanto, até que eu entrei pela primeira vez numa sala de aula na condição de professora. Essa profissão se tornou, desse movo, um sonho de vida pra mim, um que pode ser tornar um pesadelo em alguns momentos, uma desesperada tentativa de fazer sentido onde há nenhum, e, mais importante, uma forma de olhar para a vida e descobrir o que de fato é importante nela.

PPS: Neil Gaiman sempre consegue ir direto ao ponto:

Para mim, o inferno é o que você carrega consigo,
e não um lugar para onde se vai.


PPPS: Por um momento, eu pensei que o filme do dia seria Anjos da Lei 2 (22 Jump Street), o filme favorito da minha sobrinha neste mês. Nós chegamos a assistir a uns 30 min. deles, até que ela se cansou e buscou outras aventuras, como, por exemplo, invadir meu celular :) 

Dia 132: De Repente Pai (19 de julho)

Preguiça de domingo pode ser uma praga. Incapaz de levantar do sofá depois do café da manhã, eu passivamente assisti o que estava passando na TV naquele momento: De Repente Pai (Delivery Man).

Eu já havia visto algumas partes desse filme com Vince Vaughn (uma versão do canadense Meus 533 Filhos do mesmo diretor, aliás), mas ele não havia me interessado muito. No entanto, como eu disse antes, a preguiça foi mais forte que meu desinteresse, e eu acabei por permanecer com essa produção até sua conclusão.  

Ao final, eu me dei conta de que esse filme não é tão ruim quanto eu havia pensado de início, apesar de mesmo assim não ser o que eu escolheria ver neste dia. A bobeira é grande demais em alguns momentos. No entanto, ele consegue ser fofo, quando superamos os aspectos mais bobocas.  

Esse filme é uma especie de fábula sobre a paternidade como uma forma de encarar a vida de olhos abertos, em vez de apenas viver no automático. Se pai não é a única forma de viver intensamente, claro, mas para algumas pessoas é a principal maneira, e uma bastante válida. Para um cara que tem 533 filhos por meio de doação de esperma, é uma modo contundente de finalmente encarar a vida de frente. 

Em um determinado momento, a namorada desse cara pergunta como ele conseguiu levar a família toda para Veneza quando tão jovem. Ele responde que havia feito um trabalho manual bastante pesado. Haha. Ele não estava brincado, porém, e vinte anos após esse trabalho extenuante, ele precisa confrontar suas consequências, no que se torna, afinal, um filme doce sobre encontrar a si mesmo no que antes parecia ser uma vida sem sentido.  

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/07/132-delivery-man-july-19.html


De Repente Pai (Delivery Man)Dirigido e escrito por Ken Scott (O diretor
tem quatro filmes na direção, dois deles diferentes versões da mesma história) .
Com: Vince Vaughn, Chris Pratt, Cobie Smulders. EUA/Índia, 
2014, 105 min., Datasat/Dolby Digital/SDDS, Color (Net).




Dia 131: Advantageous (18 de julho)

Magic shuffle funcionando a todo vapor :)

A sorte na procura de filmes em cima da hora no Netflix apareceu novamente e de forma bela com Advantageous, sobre o qual eu não sabia muito. Comecei a assistir ao filme durante o jantar, e logo tive de pausá-lo, terminar minha lasagna, enfiar-me embaixo das cobertas, voltar o filme para, então, assisti a ele de forma devida. Porque desde a primeira cena eu percebi que este seria um filme que demandaria minha total atenção. Pelo que li a respeito de sua produção, trata-se de um projeto bastante pessoa.  

Para continuar a bater na mesma tecla, a ficção científica consegue se referir à vida de uma forma que nos surpreende pela exatidão com que o faz. Com uma ambientação em um futuro próximo e tecnologias ainda improváveis, podemos perceber o nosso presente. Com o destaque em aspectos sociais numa sociedade futura fictícia, podemos ver mais claramente nosso próprio tempo. 

Advantageous assim faz de forma bela, surpreendente, comovente e precisa. Refere-se a como as mulheres não conseguem assegurar seu espaço socialmente; como elas acabam por criar seus filhos de fato sozinhas é algo assustador aqui. E o que uma mãe precisa fazer para dar uma chance melhor à sua filha nos conduz a um silêncio que se torna mais profundo a cada cena que passa, até o final quando, novamente, conseguimos ter a esperança de dias melhores - embora, ainda, em um cenário bastante aterrorizante e triste, porque a perda é sempre inevitável. Incrivelmente belo, triste, chocante e ainda assim absolutamente repleto de esperança. 
Advantageous. Dirigido por Jennifer Phang. Com: Jacqueline Kim, Samantha Kim, 
Freya Adams. Roteiro: Jacqueline Kim, Jennifer Phang. EUA, 2015, Color (Netflix).




PS: Magic Shuffle é como Joe chama minha sorte incrível de procurar filmes em cima da hora no Netflix.

PPS: Fragmento: Meu Malvado Favorito (Despicable Me 22013).






Dia 130: Homem-Formiga (17 de julho)

"Eu sou o Homem-Formiga... É, eu sei".

Essa fala resume a descrença inicial a respeito desse novo filme da Marvel. As produções sobre os personagens da Marvel costumam ser espetaculares, mas a primeira reação a esse último foi de dúvida. Não ajuda o fato de que Paul Rudd não se parece em nada com um super herói. Mas esse filme não é o que se espera em vários aspectos, e seu elenco é apenas um deles. 

Apesar de um início um pouco devagar, O Homem-Formiga (Ant-Man) tem momentos espetaculares, e o resultado acaba sendo positivo no final das contas. O quebra-cabeças usual da Marvel adquiriu uma peça interessante, e sempre vale permanecer no cinema até o último momento dos créditos finais.  

Um pensamento que se tornou inevitável para mim foi quantos minúsculos acontecimentos causam um grande impacto no mundo, mas permanecem despercebidas. Nesse sentido, esse filme é genial - a cena com o Pequeno Thomas é inteligente e engraçada, por exemplo. .

Eu assisti à versão dublada (com meus sobrinhos) em um cinema super lotado - muito longe da minha ideia de uma boa sessão de cinema (com exceção das crianças, sempre uma companhia querida :). Mesmo assim eu me diverti muito com o filme. E com a participação especial de um Avenger. E com as histórias com a dublagem engraçada (são bastante boas até). Ao final, esse acabou por se mostrar um filme bem legal. 

Um PS prévio: o filme inicia com uma cena em 1989. Michael Douglas está bastante ovem (ele foi digitalmente rejuvenescido) Mesmo que o resultado tenha sido muto bom, foi surreal ouvir alguém comentar como ele estava realmente bem! Inacreditável mesmo :) 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/07/day-130-ant-man-july-17.html


Homem Formiga. Dirigido por Peyton Reed. Com: Paul Rudd, Michael Douglas, 
Evangeline Lilly. Roteiro: Edgar Wright et al. a partir dos quadrinhos de Stan
Lee, Larry Lieber, Jack Kirby. EUA, 2015, 117 min., Datasat/Dolby Digital/
SDDS/Dolby Atmos, Color (CInema).




PS: Fragmentos: O Casamento do Ano (The Big Wedding, 2013 - ugh); Viagem Insólita (Innerspace, 1987  - amo esse filme);  The Matrix, 1999 (sinda surpreendente).

Dia 129: Sem Segurança Nenhuma (16 de julho)


Todos os elementos comumente presentes num filme indie legal estão presentes em Sem Segurança Nenhuma (Safety Not Guaranteed): Jake Johnson, personagens meio desastrados, um bocado de diálogos espirituosos, um pouco de ficção científica... Não havia como esse filme não ser divertido e até mesmo cativante. 

Vários usuários do imdb.com pensam justamente assim - eles não são tímidos em seus elogios. Mas para mim alguma coisas faltou aqui. O filme parecia tão bom, tão interessante, mas apesar de ser relativamente curto, ele chegou a me entendiar logo no início. Por que eu não conseguia identificar, pois, como disse, ele parecia tão bom. Mas os personagens caíram num vazio, a história foi mal contada... Não sei. Esse filme simplesmente não funcionou para mim. 

No entanto, preciso dizer que quando duas pessoas fofas e estranhas se apaixonam, é pura mágica. Não há dúvida desse fato simples, e nem esse filme não tão bom pode impedir essa mágica de acontecer. 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/07/day-129-safety-not-guaranteed-july-16.html

Sem Segurança Nenhuma.  Dirigido por Colin Trevorrow. Com: Aubrey
Plaza, Jake Johnson, Mark Duplass. Roteiro: Derek Connolly. EUA, 2012, 
86 min., Dolby Digital/Datasat, Color (Netflix).

Dia 128: Cidades de Papel (15 de julho)

Eu não havia planejado assistir à mais recente adaptação de um livro de John Green para o cinema hoje, mas mesmo assim lá estava eu, num cinema lotado, na companhia inesperada de uma amiga muito amada, um monte de pipoca e balinhas. Um inesperado final feliz para um dia que acabou sendo bastante estranho. 

O que eu mais gosto quando vejo um livro de JG no cinema é todo o cuidado da produção no sentido de contar uma história querida para muitos leitores. Esse tipo de cuidado tem sido crescente no que se refere à adaptação de livros voltados para o público jovem, o que é um bom sinal a meu ver. Uma boa história não tem idade ou púbico específico apenas, e as adaptações mais recentes tem trazido essa ideia de forma surpreendente. 

Dessa forma, com o envolvimento de John Green na produção, Cidades de Papel (Paper Towns) é um filme basicamente fiel ao seu original. Alguns fatos são diferentes, como não poderia deixar de ser numa boa adaptação. No entanto, a história e os personagens estão ali, com a ajuda de um elenco bastante bom,  e isso é o que importa realmente ao final. Porém, eu preciso dizer que a cena mais fundamental do livro para mim foi um tanto apressada no filme, infelizmente. A noite de aventuras ninja de Margo e Quentin passou muito rapidamente, e é superficial se comparada com a maior intensidade com que narrada no livro. Esse e meu único senão aqui... mas ele é essencial. Essa cena poderia e deveria ter sido bem melhor. Ao menos, ela ainda é incrível no livro. Eu não acho que esteja chata nesse sentido... minha decepção podia quase ser ouvida quando percebi que uma cena tão importante havia sido apressada de forma desnecessária.

Minhas risadas também podiam ser ouvidas claramente, muito altas de fato. Eu ri alto enquanto lia o livro, tanto que eu tive que parar várias vezes antes de conseguir continuar a leitura. Eu ri muito menos no filme, mas o suficiente para incomodar e envergonhar minha companhia sensivelmente mais controlada e digna. E por falar em controle, a participação especial no filme provocou risadinhas e até alguns gritinhos histérios (nada a ver comigo, claro :). É fofa e uma boa referência a outras histórias de John Green que, espero, se tornarão uma tradição nas próximas adaptações. 

O que uma pessoa realmente é, para além do que vemos, pode ser um mistério. É comum projetarmos uma imagem própria em alguém apenas para nos surpreendermos quando essa pessoa não corresponde a essa ideia que formamos sobre ela. Mas esse é um problema nosso, e Cidades de Papel se refere justamente a essa percepção de uma forma divertida e fofa, marca registrada das histórias de John Green. Felizmente :) 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/07/day-128-paper-towns-july-15.html


Cidades de Papel. Dirigido por Jack Schreier. Com: Nat Wolff, Cara Delevingne,
Justice Smith, Austin Abrams. Roteiro: Scott Neustaudner and Michael H.
Weber a partir do livro de John Green. EUA, 2015,  109 min., Color (Cinema).


PS: Há alguns elementos recorrentes nas histórias de John Green: tulipas, a frase "I love you present tense" ("Eu te amo no tempo presente") ... e The Mountain Goats, a banda favorita do autor. Abaixo, um easter egg em Cidades de Papel:





PPS: Eu li os quatro livros solo de John Green em sequência, no espaço de cinco dias. Primeiramente foi O Teorema de Katherine, meu preferido - não estou sendo do contra aqui, mas eu realmente gosto desse livro, mesmo sabendo que esse é comumente aquele de que as pessoas menos gostam. Depois vieram as lágrimas de sangre e o coração partido em A Culpa é das Estrelas. A seguir, cheguei a Cidades de Papel - a cena da vaca me fez chorar de ir. O último acabou por ser o primeiro livro de John Green, Quem é você, Alaska?, o livro dele de que menos gosto. Eu o achei sufocante, sem nenhum dos traços que John Green depois apresentou na sua forma de contar suas histórias sobre o fim da adolescência de maneira doce e perspicaz.