30 de jun. de 2015

Dia 36: Amor à Primeira Briga (14 de abril)


Droga de filmes com peixe cru.  

Amor à Primeira Briga (Les Combattants) é muito fofo. A premiada estreia do diretor francês Thomas Cailley é cativante, doce, engraçado. O mundo poderia se beneficiar da existência de mais pessoas como Arnaud Labrède, um cara que esconde, por detrás de uma fachada calma e quieta, uma força de vontade admirável. Madeleine Beaulieu é a garota por quem ele se apaixona. Ela é grosseira, feroz, afiada, teimosa, inflexível e, claro, extremamente doce por trás de tudo isso. É a sua autodeterminação exagerada que quase me levou a pagar um vexame gigantesco no cinema, na frente de todos. 

Veja bem, Madeleine almeja treinar sobrevivência no exército. Mas antes, ela considera que precisa estar preparada. Nadar com uma mochila cheia de telhas é uma de suas práticas. Outra é passar um peixe cru no liquidifcador e beber aquela gosma terrivelmente nojenta, com a expressão mais pacífica do universo. Foi horrível (e ainda é, ao escrever a respeito). 

Eu detesto filmes com peixe cru. Não consegui achar graça alguma em Um Peixe Chamado Wanda (A Fish Called Wanda, 1988), uma comédia bastante elogiada. Todos estavam rindo ao meu redor, e eu só queria sair correndo dali. Horrível.  O Casamento (Svadba), filme russo de 2000, é classificado como engraçado e afiado, mas a partir do momento em que um convidado do casamento chega com um peixe com os olhos mais bizarramente esbugalhados, foi o fim para mim. Não conseguia pensar em mais nada, tão enjoada eu fiquei.  Pensando melhor, não se trata apenas de peixe cru. Aquele anão comendo a cabeça do peixe em O Hobbit: Uma Viagem Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey2012) me obriga a fechar os olhos todas as vezes. Vai entender, ate mesmo escrever este post é torturante. Mas essa é realmente uma das minhas maiores fobias no mundo.  

Assim sendo, eu provavelmente não vou assistir a Les Combattants novamente, mas você deveria tentar vê-lo. Não é uma grande produção, mas traz uma boa história, com personagens tangíveis, muito queridos. Uma alegria de ver (exceto pelo suco de peixe). 




Eu devo ser realmente masoquista... 

Amor à Primeira Briga (Les Combattants). Dirigido por Thomas Cailley. Com:
Adèle Haenel, Kévin Azais, Antoine Laurent. Roteiro: Thomas Cailley, Claude 
Le Pape. França, 2014, 98 min., Dolby Digital, Color (Cinema).

Dia 35: 50% (13 de abril)

Há vários e inúmeros filmes sobre personagens fortes e inspiradores em sua luga contra a doença (Você mesmo aí, Nicholas Sparks). Câncer r é uma dessas doenças, e normalmente saímos do cinema considerando esses personagens verdadeiros heróis, como especiais. Eles são, sem dúvida, mas não pelas razões comumente descritas nessas histórias exageradamente sentimentais. 

50%, por outro lado, apresenta um cara que se vê diante de um diagnóstico difícil: com apenas 27 anos, Adam tem de confrontar um câncer que tem um nome impos´sivel de pronunciar e um tratamento com ainda piores efeitos colaterais. Ele é o que se pode considerar um cara absolutamente comum, num dia-a-dia igualmente regular, mas com um cenário extraordinário à frente. Um que ele provavelmente terá de enfrentar sozinho... 

Baseado na história de Will Reiser, roteirista do filme, que a escreveu sobre o que vivenciou sob o incentivo de Seth Rogen, um dos atores de 50%, esta produção tem um respeito honesto pelos pacientes de câncer e todos os aspectos que enfrentam. Não há nada extraordinariamente comovente sobre Adam além da sua humanidade, da sua vida. E há algo mais importante? Acho que não. 

Um pensamento me ocorreu enquanto acompanhava Adam na sua rotina comode paciente de câncer, uma situação diante da qual eu me vi também (mas que nunca representou um risco de vida, no entanto): algumas coisas precisam ser enfrentadas em solidão. Não há outra forma. Apesar de cercado por família, amigos maravilhosos e que dão todo o suporte, assim como uma equipe médica competente, lidar com essa doença é uma tarefa pessoal e intransferível. Quando aceitamos esse fato simples, tudo se torna diferente. Cercados por pessoas, em um momentos nos encontramos verdadeiramente sós, ao menos naquele instante... até as coisas começam a fazer sentido novamente, e tudo ao nosso redor assume outros (melhores) sentidos. Somos capazes, então, de olhar as pessoas e as situações sob outra perspectiva, com olhos mais cuidadosos e amorosos. E isso acaba por ser um verdadeiro presente em meio ao caos. 

Para mim, essa foi uma das maiores e mais gratificantes descobertas na vida, uma que eu posso ver na história silenciosa e belamente comum de Adam. 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com/2015/04/day-thirty-five-april-13.html

50/50. Dirigido por Jonathan Levine. Com: Joseph Gordon-Levvit, Seth Rogen,
Anna Kendrick, Anjelica Houston. Writer: Will Reiser.  EUA, 2011, 100 min.,
Dolby Digital/SDDS/DTS, Color (Netflix).


PS: Daredevil, 2015 - Temporada 1, episódios 5 e 6. 

29 de jun. de 2015

Dia 34: Será Que? (12 de abril)

Deveria ser bastante simples falar sobre Será Que? (What If)Ao procurar por algum filme no Netflix para ver neste dia, encontrei este com Daniel Radcliffe e Zoe Kazan. Eu não o vi nos cinemas, com receio de ficar desapontada (trata-se de Harry Potter, afinal). Mas neste domingo de abril eu resolvi arriscar. 

Seria possível dizer várias coisas sobre essa singela comédia romântica. É previsível em muitos aspectos, surpreendente em outros. Há o cara deslocado que se encontra um um terrível momento da vida. Há também a garota fofa, perfeita para ele... exceto que ela mora com o namorado há cinco anos, o qual, claro, é um babaca insuportável, mesmo que inofensivo. Não estou quebrando nenhuma regra anti-spoiler aqui, mas não há realmente muito o que contar. O argumento é tão conhecido que não há nenhuma grande surpresa para estragar. Com exceção talvez dos pequenos detalhes que fazem a diferença aqui.

Mas a eles eu não vou me referir. O que eu quero mencionar é o que transformou esse filme fofo, mas simples, em algo que sempre me fará sorrir. 

Logo depois de Wallace (Hadcliffe) encontrar Chantry (Kazan - nomes horrorosos, eu sei), ele está em seu esconderijo favorito, no telhado da casa de sua irmã. A vista é linda, e esse é um lugar onde ele pode pensar na bagunça da sua vida e tal. Novamente, não há um grande spoiler aqui, juro.  Nesta cena, ele encara fixamente o papel em que Chantry escreveu o número do seu celular. No verso, há o desenho de uma espécia de fada. Ele olha para a imagem por um tempo, até soltar o papel ao vento... que flutua, flutua... até ficar preso num galho de árvore e, de repente, se tornar outra coisa. É tão absolutamente fofo que me fez sorrir por algum tempo (o mesmo sorriso que eu vou repetir ao pensar neste filme). 

Mas essa é só a primeira parte da minha história com o filme. Logo a seguir, há um close no letreiro de um cinema... A Princesa Prometida (The Princess Bride), um dos meus filmes favoritos no universo. Dentro do cinema,  Wallace, diante das primeiras cenas do filmes de Rob Reiner (citado aqui há três dias apenas!) , traz no seu rosto um grande (você pode adivinhar?)... sorriso! O reconhecimento diante de uma história que traz para ele boas lembranças é o mesmo que ocorreu comigo aqui. 

E desse ponto em diante Será Que? adquiriu um outro significado para mim, mesmo que às vezes ele se torne um pouco lento ou que haja gente demais caindo de todos os lugares (a primeira queda é de fato engraçada demais, no entanto, e eu não conseguia parar de rir por um bom tempo). 

Ah, e por último, mas não menos importante: Toronto como ela mesma (e não Nova York) é sempre um cenário genias... como é também a incrível Dublin. A trilha sonora é fofa, aliás, como o filme.  

Adam Driver como o cara esquisito é sempre legal :)

Será Que? (Whati If) (No Canadá e Inglaterra, o nome é The F World). Dirigido por Michael 
Dowse. Com: Daniel Radcliffe, Zoe Kazan, Adam Driver. Roteiro: Elan Mastai er al a partir da 
pela de T.J. Dawe  and Michael Rinaldi. Ireland/Canada, 2013, 98 min., Dolby Digital, Color (Netflix).


PS: Um filme com Zoe Kazan de que gosto muito é  Ruby Sparks, 2012, escrito por ela mesma. É um filme meio desacreditado, mas é bastante certeiro na sua visão sobre o poder da ficção na vida (e sonhos) de todos nós. 

PPS: Fragmentos: Daredevil2015 - temporada 1, episódio 4.

Dia 33: Truque de Mestre (11 de abril)

Um bom filme de ação é ouro. Simples assim. 

Quando eu me vejo grudada na tela, esquecendo por alguns momentos onde eu estou, apenas acompanhando a ação na minha frente, entusiasmada demais para pensar em outra coisa, o pensamento acima me vem à cabeça. 

Isso é ainda mais forte em um filme do qual eu já via visto algumas cenas e até mesmo o fim. Conhecer o grande segredo do filme de Louis Leterrier não estragou nem um pouco a diversão que foi assistir inteiramente a Truque de Mestre (Now You See Me) no sábado à noite. Esse fato demonstra o tanto que esse filme é bom - pelo menos para mim, claro. 

Um pena eu tê-lo visto no cinema - a respeito, eu posso buscar consolo na existência de uma segunda oportunidade - a sequência está prevista para 2016. O elenco é excelente, Jesse Eisenberg é com certeza uma boa primeira cena, Mélanie Laurent chancou minha atenção desde Bastardos Inglórios, e Mark Ruffalo pode fazer o papel que quiser (este é o segundo filme com ele no blog, aliás) e nós seremos convencidos por ele. Não todos pensam desta forma, no entanto. 

Por fim, não há como desdenhar um filme que tem Phoenix na trilha sonora, mesmo que somente nos créditos finais, que eu acompanhei feliz da vida depois de uma história bem contada. E de cenas de ação igualmente boas, não podemos esquecer... 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com/2015/04/day-thirty-three-april-11.html
Eisenberg  poderia ser um personagem de história em quadrinhos

Truqe de Mestre (Now You See Me)Dirigido por Louis Letterier. Com: 
Jesse Eisenberg, Mark Ruffalo, Woody Harrelson, Isla Fischer, Dave Franco 
 (que realmente se parece mutio com o irmão), Mélanie Laurent. Roteiro:
Ed Solomon et al a partir da história de Boaz Yakin eEdward Ricourt.
França/EUA, 2013, 115 min., Dolby Digital/Datasat, Color (DVD).


PS: Fragment0s: O nova versão da Netflix para o Demolidor, na série Daredevil é boa demais. Eu assisti a 3 episódios e só parei porque tinha um filme para ver... 

PPS: A primeira recordação que tenho sobre pensar em como é precioso um bom filme de ação foi com Uma Saída de Mestre (The Italian Job, 2003). Eu tive sorte de estar só no cinema, porque minhas reações foram um pouco exageradas, para dizer o mínimo. Exagerado como, por exemplo, gritar uhuuuuu alto durante uma cena. 

Dia 32: Atração Mortal (10 de abril)

Greetings and salutations!!!

Minha mente me engana algumas vezes... Eu podia jurar que eu li em um livro como o personagem principal diz que seu filme favorito é Atração Mortal (Heathers), e eu tinha certeza quase absoluta (?) de que esse livro era Ligações (Attachments), de Rainbow Rowell (autora do meu super amado Eleanor & Park). No entanto, quando eu fui procurar a referência no livro, achei apenas isto (tradução livre do original em inglês): 

Eu não poderia queimar o vestido de Kiley— pelo menos não ainda —mas eu tenho um armário cheio de vestidos obsoletos. Vestidos de formatura. Vestidos de dama de honra. Eu estava preparada para reuni-los todos em um montes fofos e joga-los na lixeira fora do meu prédio. Eu iria acender um cigarro nas suas chamas, como a garota descolada em Heathers
Mas eu não podia. Porque e não sou asism como aquela garota. Não sou um personagem de Winona Ryder em nenhum filme. A Jo de Mulherzinhas, por exemplo, nunca colocaria todos aqueles vestidos sobre a cama e começaria a experimentar um por um…
Attachments - Rainbow Rowell, p. 27 (Ebook).

Bom, esse personagem que ama Heathers está em algum dos livros e filmes que li/vi nos últimos anos... e foi ele que me levou a procurar esse aparentemente cultuado filme dos anos 80 de que eu nunca tinha ouvido falar até então. 

E o motivo desse desconhecimento ainda é um mistério para mim... Eu acompanhava a carreira de Winona Ryder nos anos 80 e 90... Vi quase todos os filmes dos anos 80 que hoje são cult... Foi então um lapso grave, que eu tentei corrigir no dia 32 deste desafio. 

Será que estou me tornando muito sensível? Por que Heathers é classificado como comédia de humor negro, mas eu achei que se tratava na verdade de um de terror - ácido, sarcástico, engraçado, inteligente, mas de terror sem dúvida.  Algumas falas são espirituosas, bastante inteligentes, e frequentemente citadas em outros filmes ou publicações. Elas carregam a ironia que costumamos ver no trabalho de Michael Lehmann (Ele é o diretor em algunas das produções mais ácidas na TV atualmente como Nurse JackieDexterTrue BloodAHS (que eu detesto, aliás) House of Lies). Winona está aqui no seu auge; Shannen Doherty está incrivelmente bem, e Christian Slater é o rebelde com que toda garota sonha... até que não mais. 

How very :)






Atraçao Mortal (Heathers). Dirigido por Michael Lehmann. Com:  WInona
Ryder, Christian Slater, Shannen Doherty. Roteiro: Daniel Waters. 
EUA,  1988, 103 min., Mono, Color (DVD).

O primeiro mês


A Outra Terra:
O começo do desafio...

Dia 1: A Outra Terra2011
Dia 2: Ida, 2013; O Duplo, 2013
Dia 3: Para Sempre Alice2014
Dia 4: O Lenço Amarelo2008
Dia 5: Kingsman: O Serviço Secreto,  2014; Focus, 2014
Dia 6: Amantes Eternos, 2013.
Dia 7: A Culpa é das Estrelas, 2014
Dia 8: Timbuktu, 2014
Dia 9: Cinquenta Tons de Cinza, 2015
Dia 10: Três é Demais, 1998
Dia 12: Entre o Bem e o Mal, 2005
Dia 13: Mil Vezes Boa Noite, 2013
Dia 14: Sinédoque, Nova York 2008
Dia 15: Elsa e Fred2005
Dia 16: DeUsynlige, 2008
Dia 18: Eternos Amantes 2013
Dia 19: O Sal da Terra 2014
Dia 20: Alabama Monroe, 2012
Dia 21: Insurgente2015
Dia 22: O Sal da Terra2014
Dia 23: Cinderela, 2015
Dia 24: Velozes e Furiosos 7, 2015
Dia 25: A Vida Secreta das Palavras2005
Dia 26: A Hora do Espanto2005
Dia 27: 14 Estações de Maria, 2014
Dia 28: I-Origins, 2014
Dia 29: Mesmo Se Nada Der Certo2013
Dia 30: Ender's Game, 2013
Dia 31: O Primeiro Amor, 2010


Eternos Amantes:
Uma das maiores surpresas deste primeiro mês

28 de jun. de 2015

Dia 31: O Primeiro Amor (9 de abril)

E Um Filme por Dia faz aniversário! Um mês com alguns filmes inesquecíveis e brilhantes... 

Para o dia 31, eu segui a indicação de uma amiga que é também uma maga dos filmes (como a Malu): Samara viu tudo o que existe no mundo, não importa se é na TV, no cinema, se é filme ou série. Um dia eu contei de um filme que ela ainda não conhecia, e fiquei realmente orgulhosa de mim... Sem exageros, prometo.

Então, O Primeiro Amor (Flipped) foi o escolhido para este dia. Eu assistia a um filme de Rob Reiner há tempos, e também não é exagerado afirmar que seus filmes são um gênero por si só. A Princesa Prometida (The Princess Bride, 1987) é um dos meus fimes para a vida, e Harry e Sally: Feitos um para o Outro (When Harry Met Sally, 1989 - uma bela parceria com Norah Ephron) é um filme de que gosto muito. Mas suas mais recentes produções foram muito açucaradas para mim. O Primeiro Amor parecia ir na por  um caminho previsível, e em determinados aspectos ele realmente segue pelo esperado. 

Contudo, não podemos esquecer que Reiner é responsável por um dos mais aclamados e queridos filmes sobre infância que existem, Conta Comigo (Stand by Me, 1986). Então, sendo ele quem é, não foi realmente uma surpresa quando um filme fofo como O Primeiro Amor apresentou alguns elementos inesperados, bons personagens (Juli com 7 anos é só amor desde a primeira cena) e uma história que vai além da superfície de um divertido filme familiar.

Durante todo o filme, eu estava esperando pelo que viria a seguir. Esse é sem dúvida um atributo das boas histórias. 

A respeito, Neil Gaiman escreveu que o fator de diferença em uma história pode ser resumido por quatro palavras. E porque ele consegue reunir de forma muito especial o que eu sinto sobre as narrativas ficcionais, e ainda porque este post está mais curto que o normal, mas sobretudo por conta da celebração do aniversário de um mês deste desafio, eu trago as palavras de Gaiman aqui. 

Espero que gostem :)


GAIMAN, Neil; SARRANTONIO, Al (Edited by). Stories – All new tales. HarperColins ebooks, 2009.


Para todos os contadores de história e os fiadores de contos que entretiveram o público e os mantiveram vivos, para Alexandre Dumas e Charles Dickens, para Mark Twain e Baroness Orczy e todo o resto, e, sobretudo, para Scheherazade, que era ao mesmo tempo a contadora de história e a história contada. 


INTRODUÇÃO
APENAS QUATRO PALAVRAS
AL SARRANTONIO E EU DISCUTÍAMOS antologias de contos. Ele havia editado uma antologia imensa de contos de terror de ponta e outra de  fantasia inovadora; os dois livros, cada um de um modo, definitivos. Ao conversar, percebemos que tínhamos algo em comum: o que nos importava, realmente, eram as histórias. Do que sentíamos falta, o que gostaríamos de ler eram histórias que faziam com que nos importássemos, histórias que nos forçavam a virar a página. E, sim, nós desejávamos uma boa escrita (por que se satisfazer com menos?). Mas queríamos mais que isso. Queríamos ler histórias que utilizavam um relâmpago de magia como uma forma de nos mostrar algo, que já havíamos visto milhares de vezes, como se nunca tivéssemos visto antes. De verdade, nós queríamos tudo isso. 
E, lentamente, o desejo se tornou uma ação…
Quando criança, eu enfernizava os mais velhos por histórias. Minha família costumava improvisar ou ler, para mim, histórias dos livros. Assim que eu me tornei velho o suficiente para ler, eu fui uma dessas crianças que precisam ter um livro ao alcance. Eu podia ler um livro por dia, ou mais. Eu queria histórias, e eu as queria sempre, e eu queria a experiência que apenas a ficção podia me dar: eu queria estar dentro das histórias.

Televisão e cinema eram bons, mas aquelas histórias aconteciam a outras pessoas. As histórias que eu encontrava nos livros aconteciam na minha cabeça. Eu estava lá, de alguma forma. 
É a mágica da ficção: você pega palavras e as transforma em mundos.
À medida que passava o tempo, eu me tornei um leitor mais seletivo (lembro da primeira vez em que percebi que não precisava terminar um livro; a primeira vez em que percebi que o modo como uma história era contada estava interferindo na história). Mas mesmo quando eu me tornei mais criterioso como um leitor, comecei a sentir que o que me fazia continuar lendo, o lugar em que a mágica ocorria, a força impulsionadora da narrativa podia ser negligenciada. Eu podia ler uma prosa lindamente escrita e não me importar com ela.
Isso se resumiu então a quarto palavras.

Existe um tipo de leitores que lêem somente não ficção: que leem biografias, talvez, ou livros de viagem. Leitores que leem nada mais que poesia concreta. Há aqueles que leem coisas que os tornarão, e àqueles ao seu redor, melhores, que apenas leem livros que lhes dirão como sobreviver à iminente crise financeira ou como ter confiança em si mesmos ou como jogar pôquer ou construir colmeias. Eu mesmo posso às vezes ser visto lendo livros sobre criação de abelhas e, porque eu escrevo ficção, sempre fico feliz em ler  sobre fatos estranhos. O que quer que leiamos, nós somos parte da comunidade da história.  
E há os não leitores, claro. Eu conheci um homem  nos seus noventa anos que, ao saber que eu era escritor, admitiu que havia tentado ler um livro uma vez, muito tempo antes de eu nascer, mas que havia sido incapaz de ver um sentido nisso e nunca mais havia tentado. Perguntei se ele lembrava o nome do livro, e ele me disse, da mesma forma que alguém que havia tentado comer uma lesma e não havia gostado e, assim, não precisaria lembrar a espécie da lesma que havia comido, que uma é como todas as outras, com certeza.
E ainda assim. Quatro palavras.
Mas eu não as havia percebido, até que, há uns dias, alguém escreveu no meu blog:
Caro Neil, se você pudesse escolher uma citação – qualquer uma – sua ou de outro autor, para colocar na parede de uma biblioteca pública, qual seria? Obrigada! Lynn.
Eu ponderei um pouco. Eu disse muito sobre livros e leitura infantil ao longo dos anos, e outras pessoas haviam dito coisas mais assertivas e sábias que eu jamais poderia. E, então, entendi. E foi isto que escrevi: 
Não estou certo de que eu colocaria uma citação na parede, se fosse eu e eu tivesse uma parece de biblioteca para desfigurar. Penso que eu apenas lembraria as pessoas do poder das histórias, de por que elas existem em primeiro lugar. Eu colocaria ali as quatro palavras que todos que contam uma história querem ouvir. Aquelas que mostram que a história funciona, e que as páginas serão viradas:
“… e o que aconteceu?”
As quatro palavras que toda criança pergunta, quando você faz uma pausa ao contar uma história. As quatro palavras que você ouve no fim de um capítulo. As quatro palavras, ditas ou não, que mostram a você, como u m contador de histórias, que as pessoas se importam. A alegria com a ficção, para muitos de nós, é a alegria com a imaginação liberta do mundo e capaz de imaginar.
Ao conversar com Al Sarrantonio, percebi que eu não estava só em me encontrar crescentemente frustrado com os limites do gênero: a ideia de que categorias que existem apenas para guiar as pessoas nas livrarias agora parecia ditar o tipo de histórias que são escritas.  Eu amo a palavra fantasia, por exemplo, mas eu a amo pelo espaço quase infinito que ela dá ao autor para brincar: uma espécie de  quarto de brincadeiras infinito no qual os únicos limites são os da imaginação. Eu não amo a palavra pela ideia de fantasia comercial. Fantasia comercial, para o bem ou para o mal, tende a se arrastar por sulcos já existentes e cavados por J. R. R. Tolkien ou Robert E. Howard, deixando um mundo de histórias atrás de si, excluindo muita coisa. Havia tanta ficção de qualidade, ficção que permitia uma rédea solta à imaginação do autor, além das estantes do gênero. Isso era o que queríamos ler. 
Parecía que o fantástico pode ser e pode fazer muito mais do que assumem seus detratores: ele pode iluminar o real, pode distorcê-lo, pode mascara-lo, pode escondê-lo. Pode lhe mostrar o mundo que você conhece de uma forma que o faz perceber que você nunca olhou para ele, nunca olhou. G. K. Chesterton comparou a ficção fantástica a como sair de férias – a importância de estar em férias é o momento em que você retorna e vê o lugar em que vive com novo olhar.
Então  Sarrantonio e eu chamamos pelas historias, e elas começaram a voltar para nós. Escritores aceitaram o desafio. Nós aprendemos a esperar apenas o inesperado. 
"... e o que aconteceu?"
A verdadeira magia dessa pequena invocação é que ela inspirou milhões de palavras, transformou pessoas que nunca se imaginaram como narradores em narradores de contos capazes de competir com Scheherazade ou Joseph Jorkens de Dunsany por seu dinheiro - ou seu whisky, ou até mesmo suas vidas. Nós viramos a página, e a aventura começa. 
Há algo esperando por você. Vire a página, então.


Neil Gaiman - Dezembro de 2009.

O Primeiro Amor (Flipped)Dirigido por Rob Reiner. Com: Madeline 
Carroll, Callan McAuliffe, Rebecca de Morney. Roteiro: Rob Reiner 
e Andrew Schneinman a partir do livro de Wendelin van Draanen. 
EUA,  2010, 90 min., Dolby Digital, Color (DVD - já disponível no Netflix).

PS: Fragmento: Vivendo na Eternidade (Tuck Everlasting, 2002), um filme da Disney direcionada à família, com um bom elenco e um argumento... mas, mesmo se eu normalmente tento não ser muito crítica, preciso dizer que este foi realmente bastante monótono e bobo.  

Dia 30: Ender's Game (8 de abril)

Ainda cansada pela correria de finalizar um trabalho com prazo para entrega, eu não queria pensar demais quando finalmente sentasse para assistir o filme do dia 30. 

O poster é muito bom, na verdade...
Detnro de toda essa armadura,
há apenas uma criança
Eu li o livro de Orson Scott Card's, Ender's Game, há algum tempo e não consegui lembrar de alguns dos detalhes da história. Mas parece-me que várias mudanças foram feitas no filme, o que não é incomum em adaptação de um livro para as telas. 

No entanto, o que chamou minha atenção foi como o filme diminuiu em muito a intensidade da história original. Um dos principais aspectos do livro de Card é a violência de arrancar uma criança de sua casa para passar por um treinamento de jogos de guerra numa espaçonave isolada de tudo que não seja o treinamento. O quão amedrontado Ender estava, como ele teve de buscar formas de sobreviver nesse ambiente perdeu sua intensidade no filme, que acaba por retratar Ender como um adolescente arrogante para quem tudo é garantido por seu talento inato. Ele chegou a me irritar, na verdade, muito diferente do que aconteceu durante o livro. E por esses fatores, o final excruciante também apresenta menor impacto que na história escrita. 

Sim, o visual é incrível, as lutas são excelentes. Eu nem precisaria dizer o óbvio (mas vou fazê-lo de qualquer forma): todos aqueles jogos e cenas espaciais belamente concebidas não são nada sem a história arrasadora que dá essas imagens todo o sentido. 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com/2015/04/day-thirty-april-8.html

Ender's Game. Dirigido por Gavin Hood. Com: Asa Butterfield, Harrison Ford,
Hailee Steinfeld
 (Ela está incrível aqui também). Roteiro: Gavin Hood a partir
do livro de Orson Scott Card. EUA, 2013, 116 min., Dolby Digital/Datasat/
Dolby Atmos/Auro 11.1, Color (DVD).



Dia 29: Mesmo Se Nada dê Certo (7 de abril)

No dia 29, o excesso de trabalho não me deixou muito tempo para este desafio. Mas pular um dia não é uma opção... então eu, já à noite, me pus diante da TV para ver Sr. Ninguém... 

No entanto, meia hora depois, eu vi que ele era demais para mim neste dia, e então decidi procurar outro filme para assistir. 

Felicidade total. 

Dessa vez, eu acertei tão na mosca que até me espantei. Eu havia visto o trailer de Mesmo Se Nada Der Certo (Begin Again) nos cinemas, mas não fiquei com uma boa primeira impressão à época. Assim, desanimei de vê-lo quando estreou, apesar de ser dirigido por John Carney, o mesmo dom eu amadíssimo Apenas Uma Vez (Once, 2006).

De onde eu começo? Eu flutuei em estado de felicidade durante todo o filme. Foi uma jornada feliz e emocional. E feliz. E esfuziante. Eu me apaixonei de tal forma que eu queria sair dançando pela sala, abraçada na TV. Ridículo assim.

Carney narra suas histórias por meio de música e das pessoas que circulam ao redor dela. As atuações musicais não são estranhas nesse filme - como é comum em produções que trazem atores interpretando músicos. Aqui as performances são doces e comoventes. Música é o centre da vida e das relações humanas para Carney. Música e amor e amizade. Vidas não muito fáceis, corações partidos, amores impossíveis (um elemento sempre central em seus filmes), e, claro, boa música nos levam suavemente pela mão por histórias de amor, perda e esperança. 

Preconceitos são uma futilidade. Eu costumo ficar presa a bobagens, e às vezes me recuso a ver um filme de um diretor favorito, por exemplo, porque fico com receio de me decepcionar. Sim, eu sou assim susceptível. Felizmente a vida, contudo, costuma me mostrar que eu estou errada em todos meus preconceitos e medos.  E Mesmo Se Nada Der Certo é a última dessas provas, na forma de um filme, sensível, musical e feliz. 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/04/day-twenty-nine-april-7.html





Mesmo Se Nada Der Certo (Begin Again). Dirigido e 
escrito porJohn Carney. Com: Keira Knightley, Mark Ruffalo, 
Adam Levine, Hailee Steinfeld (Que está incrível em uma papel 
bastante especial), Catherine Keener (a eterna ex-mulher?). 
EUA, 2013, 106 min., Datasat/Dolby Digital, Color. 


PS: Apenas Uma Vez (Once) é um dos meus filmes favoritos na vida, apesar de ser uma produção pequena e simples. Uma razão é por se passar em Dublin, cidade linda que eu adoro. Outra é que, além da boa história e personagens, o filme, apesar de ter sido filmado com duas handcams e baixíssimo orçamento, não é desconfortável em nenhum momento sobretudo pela qualidade da música e da edição de som. 

PPS: Um filme fofo  com uma boa trilha sonora,  Once ressurgiu em minha vida de uma forma surpreendente um dia, anos depois de tê-lo visto nos cinemas. Eu acompanhava minha mãe a um exame de ultrassonografia. Na sala quase escura, sentada numa cadeira no canto, aos poucos fui me dando conta de que estava tocando uma música conhecida e que que eu gostava. Era a música de um filme... Once!, eu lembrei finalmente. Comentei com a médica que fazia o exame sobre o meu reconhecimento, e desse momento em diante nós falamos não apenas sobre este, mas a respeito de vários outros filmes que nos emocionaram com suas histórias e músicas. Foi um encontro afortunado, que me lembrou como os filmes estão presentes na vida de várias pessoas, cotidianamente. 

PPPS: Dois dias depois de ver Mesmo Se Nada Der Certo, ele ainda estava comigo. Há filmes que me fizeram sentir de uma forma muito similar. Então eu pensei que seria interessante indicá-los aqui: Uma Noite de Amor e Música (Nick and Norah's Infinite Playlist)2008; Dakota Skye2008; As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, 2012)... e estes foram aqueles de que lembrei por enquanto.   

Dia 28: I-Origins (6 de abril)

Há uma nova regra na minha casa neste ano: se você está visitando ou ficando aqui, provavelmente terá de assistir a um filme comigo. Assim aconteceu no dia 28. Durante o chá com duas de minhas sobrinhas mais amigas, eu apresentei duas opções: ou elas ficavam à mesa conversando entre si, ou me acompanhavam no filme do dia.  

Escolhida a última opção, nós depois comentamos como foi bom assistirmos ao filme juntas. I-Origins. Dirigido por Mike Cahill, do maravilhoso filme do dia 1 neste desafio, A Outra Terra, minhas expectativas eram grandes - um elemento, como já dito aqui, que se mostra uma boa companhia durante um filme. 

I-Origins prendeu minha atenção, eu o achei inteligente e emocionante, mas não balançou meu mundo como A Outra Terra. Li um comentário no imdb.com segundo o qual o filme é "super incrível" e que "I origins oferece uma das melhores explicações possíveis para a conexão entre as pessoas no complexo e ainda assim simples mundo em que vivemos..." 

Não estou muito certa, mas tenho a impressão de que, por já possuir uma forte crença durante toda a minha vida nesse sentido, o "elemento de conexão" apresentado pelo filme não foi uma impactante surpresa para mim. Alguns outros filmes me maravilharam mais no que diz respeito a essa conexão - A Fraternidade é Vermelha (1994) por exemplo. 

O que realmente me segurou no filme foi a luta que os protagonista estabelece com suas próprias crenças. No ambiente acadêmico, podemos ver como a racionalidade ainda é considerada um "modo seguro" de garantir o controle sobre ideias erráticas ou a ambivalência do mundo. Trata-se, assim, de uma concepção fadada ao fracasso desde o início, pois nada pode tornar o mundo uma imagem do nosso desejo por ordem e certeza. Por isso, para mim, os melhores pesquisadores e pensadores são aqueles que assumem a contradição e a ambivalência como princípio essencial e como método de estudo (O mais amado e admirável deles para mim é o filósofo alemão Walter Benjamin).

Um professor uma vez me disse que todas as ideias que visam um estreito controle sobre a realidade, apresentada por alguns pesquisadores, é uma forma de fundamentalmente evitar a morte. Acho que ele não poderia ter se expressado melhor, numa alusão que se refere ao personagem principal de Cahill neste filme. 

I-Origins é interessante e até mesmo muito querido em suas tentativas de debater uma confusão que é constante para a humanidade. Cahill conta a sua história por meio de um bom roteiro, imagens maravilhosamente lindas, como sempre, e atuações comoventes e de cortar o coração. 

Ao final, uma discussão tomou conta de nossa pequena audiência, com o acréscimo do namorado da Mari, que já havia assistido ao filmes e que havia chegado quase no fim. De acordo com ele, nosso debate era só um mimimimimimmimimi sem sentido. Talvez. Mas foi também o reflexo de como o filme nos comoveu e levou a vários pensamentos, discussões, reflexões sobre a vida, sobre questões humanas, o que seria ou deveria ser na vida... tudo sem a necessidade de um certo ou errado, contrariamente ao que ocorre nas tentativas cient´ficas de explicar a vida e a humanidade. 



I-Origins. Dirigido e escrito por Mike Cahill. Com: Michael Pitt, Steven Yeun,
Brit Marling. EUA, 2014, 106 min., Dolby, Color (DVD). 

PS: Há um comentário curioso no quadro de mensagens do imdb.com, um que me fez sorrir de verdade. A  trivia sobre o filme é legal, também, escrita por alguém que realmente se fixou nas ideias do filme. 

Dia 27: 14 Estações de maria (5 de abril)


Tenho um forte sentimento de que não vai demorar muito para este desafia acabar comigo. 

Normalmente, eu procuro histórias mais intensas, mas num espaço de tempo maior entre um filme de cortar o coração e outro. E mesmo que eu tente assistir a produções mais leves, a qualidade e força de alguns dos filmes que vi em menos de um mês tem sido surpreendente. 

Para o domingo de Páscoa eu procurei um filme que de alguma forma se relacionasse a religião, e meu desejo foi atentido com 14 Estações de Maria (Stations of the Cross/Kreuzweg), do diretor alemão Dietrich Brüggemann. Já na primeira cena, eu percebi o quão devastador esse filme seria ao final. 

O foco principal é educação religiosa para jovens, mas claro que o filme transcende a questão de forma bastante contundente. Desde a opressiva forma com que a jovem Maria, de 14 anos, é educada pela sua mãe exageradamente rigorosa  e pelo pai lerdo e inefetivo (um verdadeiro banana), é possível pensar como atos criminosos de fato são cometidos contra as crianças pelas suas famílias, dentro de suas casas. No entanto, por não se tratar de agressão física ou algo que poderia chamar a atenção das autoridades, essa violência continua a ocorrer diariamente, por parentes despreparados num ambiente familiar que se torna um eterno pesadelo para os mais novos. 

Estaçoes é um grito estridente por atenção, executado pelo silêncio arrasador da protagonista. Maria é tão séria, doce, comprometida com o que ela pensa ser o correto, a partir de crenças marteladas tão profundamente que ela não se vê sem opção que não desaparecer no interior dessas crenças. 

Em determinado momento, a mãe de Maria, quando questionada sobre sua fé, afirma que não é apenas uma fé, como se pudéssemos medir as crenças humanas em Deus. Ela sustenta que se trata da fé real, da verdadeira forma de alcançar uma vida livre de pecados (mais real que aquela pregada pelo Vaticano, de acordo com a visão da igreja de que faz parte). E por ser intolerante da mesma forma que temos presenciado ao longo da história da humanidade, nos tempos atuais inclusive, ela não apenas não alcança sua salvação, como consegue justamente o oposto. 

O filme de Brüggemann é um grito tão ensurdecedor, mas os créditos finais são silenciosos. Como eu, de uma forma tal que não me vejo saindo desse silêncio por um bom tempo.  

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com/2015/04/day-twenty-seven-april-5.html



Esse médico é incrível... se ao menos houvesse mais como ele..

14 Estações de Maria (Kreuzweg). Dirigido por Dietrich Brüggemann. Com:
 Lucia Aron, Anna Brüggemann, Michael Kamp. Roteiro: Anna Brüeggemann. 
Alemanha,  2014, 110min., Color.

Dia 26: A Hora do Espanto (4 de abril).

Sábados à noite... uma tigela de pipoca, litros de coca zero, um pouco de chocolate e, claro, um (quase) filme de terror. O perfeito entretenimento. 

Eu assisti ao primeiro A Hora do Espanto (Fright Night) num cinema em 1985, com minha amiga mais antiga e sempre querida, Pan. É um filme divertido, mas com um suspense crescente. Um filme divertido e assustador ao mesmo tempo. Em alguns momentos, nós ficamos tão envolvidas no suspense, que Pan apertava minha mão com tanta força que parecia que ia quebrar. Sem exageros :) Depois disso, como boas pré-nerds adolescentes que éramos, passamos a citar partes do filme, referindo-nos a ele constantemente, normalmente rindo com as lembranças de duas horas divertidas no cinema quando éramos mais novas.

Tentamos assistir à nova versão juntas no cinema, mas não conseguimos. E depois de esperar por um bom tempo pela oportunidade de vermos o DVD, ontem, precisando urgentemente de um filme mais leve, eu coloquei A Hora Do Espanto (Fright Night) 2005 na TV, e  me diverti muito com ele. 

Pelo que eu lembro, o primeiro filme é mais amedrontador e nervoso (ou eu simplesmente era mais nova), com mais suspense. Neste, pareceu haver uma lacuna entre a introdução e a parte da ação - as transições foram mais sutis no filme anterior. Eu posso compreender essa diferença: há 30 anos, o ritmo era diferente. Mas, mesmo assim, um maior cuidado deveria ter existido na versão de 2005, com uma transição menos apressada, de modo a contar melhor essa história. 

Há uma surpresa emocionante no filme, que o tornou mais divertido e interessante. Ops, quero dizer, há duas participações especiais - a segunda, foi um homenagem a um bom filme de outrora e uma das minhas maiores paixonites no cinema durante a adolescência. 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/04/day-twenty-six-april-4.html

A Hora do Espanto (Fright Night)Dirigido por Craig Gillespie.  Com: 
Anton Yelchin, Collin Farrel, Imogen Poots. Roteiro:  Martin Noxon, 
a partir da história de Tom Holland. EUA, 2005, 
106 min.,  Dolby Digital/DTS, Color (DVD).


PS: Fragmentos: O Filho da Noiva (l Hijo de la Novia, 2001) - Ricardo Darin em um de seus primeiros papéis de destaque; A Culpa é das Estrelas (The Fault in Our Stars, 2014 - o filme tem sido uma constante na TV a cabo esses dias... não que eu esteja reclamando :).

27 de jun. de 2015

Dia 25: A Vida Secreta das Palavras (3 de abril)

Em determinado momento do filme deste dia, um personagem conta para outro como sobreviventes de guerra podem se sentir culpador por haverem sobrevivido. Eu também senti uma culpa imensa, ao presenciar essa história, por viver em conforto e despreocupação durante uma horrível tragédia. Eu sei que essa culpa é absolutamente em vão, mas o filme me impactou fortemente nesse sentido.

Eu havia visto trechos de A Vida Secreta das Palavras (The Secret Life of Words) antes, e havia até mesmo comprado o DVD. A diretora é a catalã Izabel Coixet, de quem eu vi também Minha Vida Sem Mim (My Life Without Me, 2003). Os dois filmes apresentam Sarah Polley em interpretações comoventes e arrasadoras, e ambos são muito especial para mim. Assim, depois de muito tempo com pequenas partes da história permanecendo na minha lembrança, ontem finalmente decidi assistir ao filme todo. 

Personagens à margem da sociedade, silêncio, economia de movimentos. Diálogos que váo direto ao coração, com uma flecha em fogo. Uma conecção que surge pela perda do próprio espaço no mundo. Uma violência tão imensa que radia por muito, muito tempo na história da humanidade. 

Depois do filme, eu não conseguia dormir. Flashes incessantes compuseram meus sonhos agitados. À época dos eventos referidos no filme, eu estava na universidade, iniciando minha vida profissional, construindo minha visão de mundo através dos filmes e descobrindo meus próprios anseios e sonhos. Nesse mesmo período, parte do mundo estava implodindo em uma violência hedionda contra seres humanos e, sobretudo, as mulheres. 

De acordo com estudos mais tradicionais sobre a recepção de imagens, o cinema pode levar a comportamentos violentos. Essa ideia não se sustenta mais nos estudos culturais contemporâneos, mas é ainda divulgada fortemente por meio do senso comum. A meu ver, deveríamos de fato valorizar como é possível, com as artes narrativas, acessar o que acontece no mundo de forma que permite que realmente os identifiquemos com o absurdo de tal violência. A partir dessa identificação, podemos então questionar o sociedade atual e o comportamento humano que prevalece. Podemos nos transformar de forma a escolhermos aturar de maneira mais efetiva para que as coisas sejam de fato diferentes.  

Eu me vi arrasada depois desse filme, e seriamente questionando minha forma de viver. Impotência é uma debilidade, e algo deve ser feito para mudar esse estado em nós mesmos.

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com/2015/04/day-twenty-five-april-03.html

A Vida Secreta das Palavras (The Secret Life of Words)Dirigido e escrito 
por Isabel Coixet. Com: Sarah Polley, Tim Robbins, Javier Cámara, J
ulie Christie.  Espanha/Irlanda, 2005, 115 min., Dolby Digiral, Color (DVD).


PS:  Uma atriz de gestos calmos e silenciosos, Sarah Polley carrega muitos aspectos em suas atuações. Ela também escolheu contar histórias do outro lado da câmera, dirigindo dois filmes de longa metragem: Longe Dela (Away from Her, 2006), que ainda não vi, mas pretendo em breve, e Entre o Amor e a Paixão (Take This Waltz2011), título péssimo e preconceituoso até. A este eu assisti no cinema, e dele eu gostei, mas... há algo que nunca, jamais funciona ao contar uma história: a defesa de uma tese. Claro que temos nossos pontos de vista, que toda a história diz algo, mas às vezes não conseguir dizer o que queremos na forma narrativa, e aí apresentamos uma tese.  Um filme pode perder a alma nesse tipo de tentativa, e para mim foi o que infelizmente ocorreu no filme de Polley. Quero muito, no entanto, assistir a Histórias que Contamos (Stories We Tell), seu documentário de 2012, que deverá aparecer aqui em breve.  

PPS: Fragmentos: E Se Fosse Verdade (Just Like Heaven, 2005); O Céu Pode Esperar (Heaven  can Wait, 1978).  Espera aí... parece haver uma mensagem escondida  nos fragmentos de hoje...  Ops.