27 de jun. de 2015

Dia 25: A Vida Secreta das Palavras (3 de abril)

Em determinado momento do filme deste dia, um personagem conta para outro como sobreviventes de guerra podem se sentir culpador por haverem sobrevivido. Eu também senti uma culpa imensa, ao presenciar essa história, por viver em conforto e despreocupação durante uma horrível tragédia. Eu sei que essa culpa é absolutamente em vão, mas o filme me impactou fortemente nesse sentido.

Eu havia visto trechos de A Vida Secreta das Palavras (The Secret Life of Words) antes, e havia até mesmo comprado o DVD. A diretora é a catalã Izabel Coixet, de quem eu vi também Minha Vida Sem Mim (My Life Without Me, 2003). Os dois filmes apresentam Sarah Polley em interpretações comoventes e arrasadoras, e ambos são muito especial para mim. Assim, depois de muito tempo com pequenas partes da história permanecendo na minha lembrança, ontem finalmente decidi assistir ao filme todo. 

Personagens à margem da sociedade, silêncio, economia de movimentos. Diálogos que váo direto ao coração, com uma flecha em fogo. Uma conecção que surge pela perda do próprio espaço no mundo. Uma violência tão imensa que radia por muito, muito tempo na história da humanidade. 

Depois do filme, eu não conseguia dormir. Flashes incessantes compuseram meus sonhos agitados. À época dos eventos referidos no filme, eu estava na universidade, iniciando minha vida profissional, construindo minha visão de mundo através dos filmes e descobrindo meus próprios anseios e sonhos. Nesse mesmo período, parte do mundo estava implodindo em uma violência hedionda contra seres humanos e, sobretudo, as mulheres. 

De acordo com estudos mais tradicionais sobre a recepção de imagens, o cinema pode levar a comportamentos violentos. Essa ideia não se sustenta mais nos estudos culturais contemporâneos, mas é ainda divulgada fortemente por meio do senso comum. A meu ver, deveríamos de fato valorizar como é possível, com as artes narrativas, acessar o que acontece no mundo de forma que permite que realmente os identifiquemos com o absurdo de tal violência. A partir dessa identificação, podemos então questionar o sociedade atual e o comportamento humano que prevalece. Podemos nos transformar de forma a escolhermos aturar de maneira mais efetiva para que as coisas sejam de fato diferentes.  

Eu me vi arrasada depois desse filme, e seriamente questionando minha forma de viver. Impotência é uma debilidade, e algo deve ser feito para mudar esse estado em nós mesmos.

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com/2015/04/day-twenty-five-april-03.html

A Vida Secreta das Palavras (The Secret Life of Words)Dirigido e escrito 
por Isabel Coixet. Com: Sarah Polley, Tim Robbins, Javier Cámara, J
ulie Christie.  Espanha/Irlanda, 2005, 115 min., Dolby Digiral, Color (DVD).


PS:  Uma atriz de gestos calmos e silenciosos, Sarah Polley carrega muitos aspectos em suas atuações. Ela também escolheu contar histórias do outro lado da câmera, dirigindo dois filmes de longa metragem: Longe Dela (Away from Her, 2006), que ainda não vi, mas pretendo em breve, e Entre o Amor e a Paixão (Take This Waltz2011), título péssimo e preconceituoso até. A este eu assisti no cinema, e dele eu gostei, mas... há algo que nunca, jamais funciona ao contar uma história: a defesa de uma tese. Claro que temos nossos pontos de vista, que toda a história diz algo, mas às vezes não conseguir dizer o que queremos na forma narrativa, e aí apresentamos uma tese.  Um filme pode perder a alma nesse tipo de tentativa, e para mim foi o que infelizmente ocorreu no filme de Polley. Quero muito, no entanto, assistir a Histórias que Contamos (Stories We Tell), seu documentário de 2012, que deverá aparecer aqui em breve.  

PPS: Fragmentos: E Se Fosse Verdade (Just Like Heaven, 2005); O Céu Pode Esperar (Heaven  can Wait, 1978).  Espera aí... parece haver uma mensagem escondida  nos fragmentos de hoje...  Ops. 

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