14 de jul. de 2015

Dia 102: Ernest & Célestine (19 de junho)

Eu costumo assistir a animações com os meus sobrinhos menores, mas às vezes eu vejo alguma por conta própria. À noite, sem me sentir muito bem, com uma gripe persistente e chata, eu escolhi o que parecia um filme querido como companhia. 

E eu acertei novamente. Ernest & Célestine é baseado nos livros da escritora e ilustradora belga Gabrielle Vincent - pseudônimo para Monique Martin, falecida em 2000. A Wikipedia me deu essa informação, e eu fiquei mesmo triste com esse fato. Suas cores são cativantes, seus cenários são belos. Estou chutando aqui, mas penso que o filme tentou reproduzir suas pinturas em aquarela. 

As imagens em aquarela são os verdadeiros narradores aqui. O conto de duas espécies diferentes de párias sociais se tornou real para mim por meio dessas pinturas. São muitas as formas de nos sentirmos inadequados no ambiente quenos cerca, e comumente as crianças lidam com essa inadequação constantemente. Adultos também, e é aí que entra Ernest, um urso que vive na "parte boa" da cidade, a que fica na superfície, mas que, apesar desses aspecto favorável, não consegue se ajustar à sociedade. Célestine está na área desprezada, o subsolo, e sua inadequação dentro de uma comunidade já banida é exposta por seus pensamentos sobre o mundo - retratados em seus desenhos, considerados um aborrecimento pelos adultos que a cercam. 

Juntos, os dois parecem um par impossível, mas claro que não é assim. Sua amizade não é apenas um produto dos contos de fadas, com as duas diferentes comunidades parecem considerar. Ela é real, bela e comovente - além de desafiadora, claro. 

Toda sociedade tem regras para manter seus cidadãos nos trilhos desejados. Enquanto essas regras permitem a coexistência, elas também podem criar abismos imensos que mantêm distante os que são considerados inadequados. E é sobretudo pela inadequação que nós podemos mudar aquelas regras que persistem sem nenhuma outra razão a não ser manter as pessoas separadamente - um abismo bastante útil política e economicamente. A meu ver, Ernest & Célestine aborda com ênfase essa questão, a partir do incrível poder criativo da inadequação. 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com/2015/06/day-102-ernest-celestine-june-19.html

Ernest et Celestine. Dirigido por Stéphane Albier et al. Com: Lambert
Wilson, Pauline Brunner 
(Forest Withaker e Mackenzie Foy dublam a versão  em 
inglês). Roteiro: Daniel Pennac a partir dos livros de Gabrielle Vincent. França/
Bélgica/Luxemburgo, 2012, 88 min. Dolby Digital, Color - animação (Netflix).


PS: Eu escrevei este post diante da TV, assistindo a O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook), o filme do dia 89 (6 de junho).  Eu nunca consigo resistir a ele, e ao assisti-lo pela milionésima vez, lembrei de algo que esqueci de mencionar antes. Há uma frase dita por Pat de que gosto muito. Ao reencontrar o irmão depois de bastante tempo, ele diz: "Eu não sinto nada além de amora por você, brother", colocando fim a um momento desconfortável entre os dois. Essa fala resume tantas coisas, que eu sempre me encanto com ela. Eu fiquei triste com o fato de o irmão de Pat no filme ser retratado como um babaca sem consideração, enquanto no livro ele é um cara que apóia o irmão mais novo sempre. 



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