10 de jul. de 2015

Dia 76: Altman (24 de maio)

Ao final de Altman, Kathryn Reed Altman, a narradora principal desse lindo documentário, diz que seu falecido marido, Robert Altman, foi a uma sessão de cinema após a Segunda Guerra Mundial em 1945. O filme era Desencanto (Brief Encounter), uma produção genial dirigida por David Lean, meu diretor favorito quando eu tinha 14 anos, e ainda hoje um cineasta amado e importante para mim. Ela afirma, na última fala do documentário, que Altman não queria assistir a uma produção de Hollywood naquele dia. Que ele, após o filme, contou para ela como a protagonista não era uma linda ou até mesmo muito interessante, mas após 20 minutos de filme e ele estava absolutamente capturado com a personagem e a história, e tinha lágrimas nos olhos. Isso é cinema, ela disse ao final. 

Altman também era um favorito meu nos anos 90. Tentando traçar as razões para esse favoritismo, eu cheguei a O Jogador (The Player, 1992). É um filme audacioso, com uma famosa sequência de abertura sem cortes, com 7min8seg de duração, que tanto uma aula de cinema quanto uma cena irônica que satiriza Hollywood, criticando seus modos de produção de cinema.  À época, a relação de Altman com a indústria já era extensiva e problemática, e o que ele havia suportado até então levou a uma crítica precisa e contundente. 

Depois de O Jogador, dois de seus filmes seguintes me chamara a atenção: Short Cuts1993, e Pret-à-Porter, 1994. Eu fiquei um pouco desapontada com Dr. T e as Mulheres, 2000, mas este era Altman: um diretor com produção diversificada e polêmica na televisão, no cinema e no teatro. Ele não se detia diante de uma crítica desfavorável. Depois de algumas mudanças, ele encontraria uma forma de fazer o que parecia ser seu objetivo na vida: contar sobre o mundo, suas visão a respeito da vida e das pessoas e da política e arte e cinema em diferentes meios e história. "Eu não dirigo, eu observo" -  "I don't direct, I watch", ele disse uma vez. O filme como um ponto de vista sobre o mundo e a humanidade. Só isso. 

Eu me emocionei bastante durante todo o documentário. A escolha de narradores familiares - sua esposa e filhos, e ele mesmo em entrevistas e testemunhos -, nos aproxima dele e de sua jornada. Quando ele surge recebendo a Palma de Ouro em Cannes em 1970 por MASH, eu comecei a chorar, parando apenas por breves momentos. Na segunda vez em que venceu Cannes, como melhor diretor, eu me rendi totalmente à emoção, esquecendo qualquer bom senso. Saber mais sobre a vida de Altman me fez retornar aos anos em que seus filmes significavam tanto para mim. 

Ele possuía várias vidas, assim como seus filmes. Ele se reinventava constantemente a fim de continuar a contar suas histórias. Trouxe importantes avanços técnicos para o cinema - todos eles como uma maneira de conseguir conferir uma melhor voz aos seus personagens e à história, e não pelos avanços em si. Ele tentou inserir vida nos seus filmes e séries de TV. Produziu um filme com seus estudantes quando não tinha dinheiro para tal. Vendeu muitas casas, mudou-se para o Canadá, França e de volta para os Estados Unidos. Durante sua vida, uma que poderia figurar em muitos e diversos filmes, ele apresentou diferentes histórias ao mundo, algumas delas aclamada pela crítica e público, outras nem tanto. Mas seu papel fundamental na história do cinema é inegável. Para mim, na minha própria história com os filmes, ele é essencial.  

O ponto de vista de seus colaboradores no cinema, atores e cineastas, é apresentado quando respondem à seguinte pergunta: O que significa Almanesque? As respostas são impressionantes, assim como as pessoas questionadas. 

Claro que eu estava chorando na fala final, que além de tudo citou meu filme e diretor favoritos. Porque quando algo faz sentido, consegue envolver vários aspectos da nossa vida, e nada é mais competente para fazê-lo que a narrativa de ficção. Especialmente os filmes, esses incríveis pedaços da vida em imagens, sons e artistas ousados. 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com.br/2015/05/day-seventy-six-altman-may-24.html

Altman. Dirigido por Ron Mann. Com: Kathryn Reed Altman, Robert
Altman, Bruce Willis 
(minha resposta favorita :).Roteiro: Len Blum. Canadá,
2014, 96 min., Color (Cable TV).

PS: Veja bem, eu amo os filmes de  Hollywood, minhas maiores referências na vida advêm deles, mas não há dúvida de que a premiações francesas são mais acertam mais. Altman teve duas conquistas no festival de Cannes, mas não ganhou nenhuma de suas cinco indicações para o Oscar. Não é raro a Academia tentar reparar sua própria estupidez, e, assim, meses antes de sua morte, Altman recebeu um Oscar Honorário, e claro que seu discurso, apesar de irônico, e até mesmo doce em alguns momentos, me deixou em lágrimas novamente (ou ainda, considerando o tempo que eu passei chorando nesse documentário). 






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