6 de ago. de 2015

Dia 113: Cidadão do Ano (30 de junho)

Há tempos não via um filme como O Cidadão do Ano (Kraftidioten), e com certeza eu não esperava nada assim quanto entrei no cinema.  

Muitos dos filmes presentes neste desafio nos últimos meses trazem a violência como tema, mas não da forma como apresentada aqui. Esse tipo de violência perturbadora, ácida, explícita, com momentos cômicos que traz um contínuo sentimento de incredulidade eu não encontrava no cinema há um bom tempo. 

Esse filme me lembrou um diálogo presente em na série da Netflix O Demoliidor (Daredevil). Matt Murdock questionou um padre sobre como algumas pessoas são maléficas, diabólicas. O debate entre os dois era que de uma pessoa de má índole se esperariam más ações, mas e se um indivíduo bom agisse dessa forma maligna?  Ele contaminaria a água do poço de toda a comunidade, responde o padre,  numa alusão á passagem da Bíblia. 

Pode-se dizer que o mesmo ocorreu no filme de hoje, mas o poço não se tornou infectado, talvez muito ao contrário. A cada morte, anunciada de forma peculiar (e que acaba por se tornar engraçada pela repetição), questionamos cada vez mais sobre se há de fato uma distinção tão exata entre o mal e o bem em um cenário de tanta violência. 

De acordo com o filme, sim, há. E, ao mesmo tempo, não, não há distinção alguma. A cena final se refere a essa contradição, sobre como a diferenciação entre o bem e o mal pode se diluir em alguns aspetos, mesmo que permaneça bastante distinguível em outros.  

O título em português se refere a O Cidadão do Ano. Um homem que é reconhecido pela sua comunidade como uma força constante. Imediatamente após receber essa condecoração, esse mesmo homem se vê diante da dor de uma perda imensurável, e é de fato sua força e constância que o leva a agir de forma que poderia contradizer o prêmio de cidadão exemplar. Mas nós deixamos o cinema pensando em como ele, de fato, agiu de acordo com a homenagem recebida, e não contrariamente como poderia parecer de início. Ambivalente e complexo, como os debates sobre a violência costumam ser, especialmente nas produções cinematográficas dos países nórdicos. 

http://onemovieadaywithamelie.blogspot.com/2015/07/day-113-in-order-of-disappearance-june30.html

O Cidadão do Ano (Kraftidioten). Dirigido por Hans Petter Moland. Com:
Stellan Skargard, Bruno Ganz, Pal Sverre Hagen (que está tão incrível aqui
como em DeUsynlige, emobra mais intenso e assustador). Roteiro: Kim Fupz 
Aakeson. Noruega/Suécia, 2014, 116 min., Color (Cinema).


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